Lula começa a desaparelhar PF e Receita
Foto: REUTERS/Adriano Machado
Desde meados da transição, os agora integrantes do governo Lula (PT) haviam se dedicado a levantar de forma preliminar quem são os indicados políticos da família Bolsonaro em cargos estratégicos de diferentes órgãos que permitem acesso de investigações policiais a dados sigilosos.
Agora, empossada, a equipe de Lula vai usar esse mapa, uma espécie de raio-x para realizar trocar em cargos estratégicos – por exemplo, superintendências da Polícia Federal, como a Rio de Janeiro, base política da família Bolsonaro e onde residem investigações de interesse do clã.
Segundo o blog apurou, o novo ministro da Justiça, Flávio Dino, deve discutir ainda nesta semana com Andrei Rodrigues Passos, o novo diretor-geral da PF, os comandos das superintendências.
Como o blog mostrou em dezembro, pelo menos 20 das 27 superintendências deverão ser trocadas. Nem todas são indicadas pela família Bolsonaro, mas as mais sensíveis – visão do novo governo, inclusive – sofreram interferência política do ex-presidente para blindar seus aliados e seus familiares de investigações, além de permitir acesso a informações referentes a adversários políticos que pudessem servir como munição para o governo Bolsonaro.
Outro foco do novo governo é a Receita Federal, um dos principais alvos de interferência política pela família Bolsonaro na gestão passada.
Flavio Bolsonaro e o pai se queixaram diversas vezes a respeito do trabalho do órgão, que é peça-chave em investigações como o caso da rachadinha – desvio de recursos de funcionários que, segundo o Ministério Público do Rio de Janeiro, ocorreu no gabinete do hoje senador à época em que ele era deputado estadual.
Bolsonaristas indicados para cargos-chave – já exonerados – foram agraciados pelo ex-presidente com inéditas adidâncias no exterior, no apagar das luzes de 2022.
Para se ter uma ideia, o ex-secretário especial da Receita Federal, Julio Cesar Vieira Gomes – que é ligado a Flávio (o que o órgão nega) foi indicado para ocupar uma recém-criada adidância em Paris. Haddad revogou.
Agora, os cargos na Receita que têm acesso a dados sigilosos – e eram foco da família Bolsonaro — precisam ser analisados pela equipe de Lula.
Outro foco é a revisão em ações da corregedoria da Receita, órgão cobiçado pela família Bolsonaro para destravar uma de suas teses defensivas para anular as investigações sobre as rachadinhas, e que foi colocada sob sigilo de 100 anos: a de que o Conselho de Controle e Fiscalização de Atividades Financeiras (Coaf) acessou ilegalmente os dados fiscais de Flávio Bolsonaro que embasam as apurações.
Em fevereiro, Flávio conseguiu emplacar o auditor José Tafner, um aliado, no comando da corregedoria.