Lula começa governo com agenda frenética
Foto: EVARISTO SA / AFP
Praticamente duas dezenas de chefes de Estado, além de diversos representantes diplomáticos, se revezaram no Itaramaty para cumprimentar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nesta segunda-feira. Durante todo o dia, o chefe do Executivo se reuniu, em sequência, com líderes estrangeiros no Palácio do Itamaraty.
Um dos encontros de Lula foi com o presidente de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa. Após a reunião, Rebelo afirmou que o presidente brasileiro combinou uma viagem a Lisboa entre 22 e 25 de abril. A data coincide com o Dia da Liberdade em Portugal, feriado nacional que celebra a revolta militar de 1974, que depôs o ditador Salazar. Rebelo classificou a posse do petista como “o regresso do Brasil em força ao cenário internacional”. E mencionou alguns temas da conversa com Lula. “Tratamos, obviamente, de outros níveis de cooperação política e diplomática”, declarou Rebelo, citando ainda uma futura visita ao Brasil do chanceler português.
No encontro, os dois chefes de Estado também abordaram possíveis investimentos. “Também se falou naquilo que pode ser feito, ou está sendo pensado que pode ser feito, em termos de investimento de Portugal no Brasil e do Brasil em Portugal, nos dois sentidos”, adiantou Rebelo, sem dar mais detalhes.
O presidente da Argentina, Alberto Fernández, por sua vez, comemorou a retomada do diálogo entre as nações sulamericanas. “Foi uma grande reunião, também porque decidimos claramente voltar a colocar em marcha o vínculo entre Argentina e Brasil com toda a força”, disse.
O presidente do Chile, Gabriel Boric, também se reuniu com Lula. Ele disse que discutiu a integração entre os dois países e a situação da Venezuela. O mandatário chileno destacou ainda que ele e Lula trocaram convites para visitas de Estado. “Conversamos da importância da solução para a crise que vive a Venezuela, e sobre a importância de que se reincorpore nos mecanismos multilaterais”, comentou.
Ao tomar posse na noite de segunda-feira, o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, frisou o retorno do Brasil ao cenário internacional. A solenidade ocorreu no segundo andar do Palácio do Itamaraty, com a presença de diplomatas e autoridades. Em seu primeiro discurso no cargo, o chanceler destacou o papel do presidente Luiz Inácio Lula da Silva na nova política externa, além de marcar a importância que o tema ambiental terá no novo governo, que pretende tornar o Brasil referência no tema.
“Atravessamos um momento certamente dos mais conturbados no cenário internacional. Teremos de saber operar nesse ambiente, com uma crise de governança global sem precedentes”, declarou Vieira. “A boa notícia, como indica o presidente Lula, é que o Brasil está de volta”, complementou.
O chanceler marcou, em seu discurso, a importância de Lula no trato com os países estrangeiros, para “reconstruir o patrimônio diplomático brasileiro”. O presidente passou o dia dentro do Itamaraty, em reunião com 15 representantes e chefes de Estado que vieram acompanhar sua posse no domingo.
Com a presença de Marina Silva na solenidade, que chefiará o Meio Ambiente, Vieira fez fortes acenos para a incorporação de uma política ambiental nas relações exteriores. Ele anunciou que o Itamaraty voltará a ter uma secretaria dedicada ao tema, que foi extinta durante o governo de Jair Bolsonaro. No entendimento do novo chanceler, é preciso seguir os padrões internacionais de conservação para, inclusive, garantir novos investimentos.
O Brasil terá, disse Vieira, uma “diplomacia climática ativa” e reconheceu que o mundo vive uma mudança no clima “que coloca em perigo o futuro do planeta”. “Só seremos fortes se atuarmos como país comprometido com o desenvolvimento sustentável”, complementou, citando que o Brasil já é candidato para sediar a COP30 em 2025, a conferência do clima das Nações Unidas. “O Brasil tem todas as condições de se consolidar como um modelo de transição energética e economia de baixo carbono”, acrescentou. Ele também pretende organizar uma cúpula dos países que abarcam a Floresta Amazônica no seu território.
O ex-ministro das Relações Exteriores, Carlos Alberto França, discursou no início da cerimônia para transferir o cargo. Ele foi um dos únicos ministros do ex-presidente Jair Bolsonaro a participar das cerimônias de posse até o momento, elogiando, inclusive, seu sucessor. “Profissional experiente e respeitado dentro das paredes deste palácio e fora delas”, declarou sobre Mauro Vieira. França ocupou por 20 meses o cargo de chanceler.
Em seu discurso, ele também fez a prestação de contas de sua gestão. França citou a urgência sanitária, com a pandemia da covid-19, a urgência econômica, e a urgência climática. Segundo o ex-ministro, a situação externa para o governo passado estava “longe do ideal”. Ele também defendeu a compra de vacinas contra a covid-19, mesmo com as pesadas críticas de autoridades da Saúde ao modo como Bolsonaro lidou com a crise.