Metade do PL condena ataques e o resto se cala
Foto: Evaristo Sá/AFP
O ataque às sedes dos três Poderes, em Brasília, no último domingo, gerou manifestações em diferentes tons entre os deputados federais do PL, legenda que abrigou Jair Bolsonaro e muitos dos seus apoiadores durante o pleito do ano passado. Um levantamento feito pelo GLOBO nas redes sociais dos parlamentares do partido em exercício de mandato mostra que, enquanto 27 correligionários do ex-presidentes posicionaram-se em tom crítico sobre os atos de terrorismo, outros 18 buscaram relativizar a barbárie na capital federal.
A análise, realizada nesta terça-feira, não localizou postagens sobre o tema disponíveis nas contas de 28 deputados federais do PL. Já Carla Zambelli e Bia Kicis, que completam o time de 75 parlamentares do partido na Câmara, permanecem com as contas bloqueadas por força de decisão judicial e, em virtude disso, não foram incluídas na pesquisa.
Deputado pelo Mato Grosso, José Medeiros acusou o PT de sabotar a manifestação em Brasília, que, segundo ele, teria seguido de forma pacífica: “A cada fala dessa, mais reforça a suspeita de que a invasão foi planejada pelo PT. Em 2013, infiltraram os black blocs para sabotar a manifestação pacífica. Se chama ataque de falsa bandeira, estouro de boiada”, escreveu o parlamentar no Twitter, sem apresentar provas para a acusação.
Já Sóstenes Cavalcante, um dos principais líderes evangélicos no Congresso Nacional, afirmou que “toda manifestação tem um recado claro”: “Ver um descondenado virar presidentes causa revolta”, pontuou. Além disso, o parlamentar é um dos representantes da direita que vêm utilizando o termo “campo de concentração” para se referir aos locais onde as pessoas acusadas de terrorismo estão presas.
Coronel Tadeu é outro nome do PL que vem relativizando o episódio em Brasília nas suas redes pessoais. Ele diz que, especialmente no WhatsApp, circulam vídeos mostrando “diversos manifestantes infiltrados, que provocaram a destruição em Brasília”. A tese da infiltração esquerdista em atos de vandalismo da direita já é conhecida entre bolsonaristas e marcou também o dia da diplomação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), quando radicais tentaram invadir a sede da Polícia Federal (PF) em Brasília.
Na mesma linha, Bibo Nunes (PL-RS) disse que não se deve generalizar o que “uma minoria de vândalos possa ter cometido, com elementos infiltrados”. Ele continuou: “Quando se usa a violência, se perde a razão, o respeito das pessoas de bem e da nação. O bom senso e respeito, de qualquer poder, convivem com a democracia. Ordem e progresso!”
Enquanto isso, um fenômeno comum entre os deputados do PL que repudiaram o vandalismo é o posicionamento contrário apenas em relação aos casos de violência. A manifestação em favor de um golpe de Estado, assim como a tônica de contestação ao resultado eleitoral, é considerada legítima. General Girão, por exemplo, escreveu que a violência em Brasília não tem o seu apoio, mas ponderou: “Os manifestantes que vandalizaram, depredaram prédios e agiram com violência não representam o verdadeiro patriota que esteve mais de 70 dias lutando por democracia”.
Já o Cabo Junio Amaral, de Minas Gerais, considera que a maioria dos presentes na Praça dos Três Poderes não participou dos atos de vandalismo e escreveu no Twitter que “individualizar as condutas é indispensável”. Major Vitor Hugo, que já foi um dos líderes do governo Bolsonaro no Congresso, seguiu caminho similar. Segundo ele, manifestações pacíficas são garantidas pela Constituição, enquanto atos de vandalismo e violência, não. “A individualização das condutas precisa ser bem conduzida a fim de separar os manifestantes pacíficos dos criminosos”, cobrou.
O deputado paraense Joaquim Passarinho começou a tarde de domingo com elogios aos manifestantes, dizendo que o povo aprendeu a cobrar para além das eleições: “Parabenizo toda e qualquer manifestação popular, pacífica, ordeira, que mostra seu apoio ou desapontamento. Povo na rua é democracia na essência!”, afirmou, em comentário seguido de aplausos. A tônica depois que o ato se transformou em baderna foi bem diferente: “Dia triste hoje em Brasília. Invasão de prédios públicos e depredação não são atos democráticos. Manifestantes estão apenas produzindo provas contra eles mesmos. Faltou inteligência e comando. Triste dia para a democracia hoje! Pena”.
Deputados do Republicanos e do Progressistas (PP), que também faziam parte da base aliada do governo Bolsonaro, a conduta nas redes teve viés diferentes, com críticas hegemônicas às cenas vistas em Brasília. No caso do PP, ao menos trinta parlamentares condenaram os ataques, enquanto apenas quatro relativizaram as invasões, como o deputado Luiz Antônio Corrêa. Nas redes, o parlamentar disse não acreditar que “todas as pessoas por lá fossem extremistas”.
Na mesma linha, no Mato Grosso do Sul, o deputado doutor Luiz Orvando escreveu que manifestações fazem parte da democracia: “A violência dos atos é imprópria e inoportuna, mas reflete a indignação da população com com o cinismo com que o governo tem conduzido os rumos da nação. Isso tudo será aplacado com a exposição do código-fonte das urnas”.
Já no Republicanos, foram 25 nomes críticos ao episódio na capital federal, enquanto apenas uma parlamentar adotou postura mais relativista: a deputada mineira Alê Silva, bolsonarista de carteirinha: “Como sempre digo, vandalismo e violência são coisas da esquerda. Por isso, acredito piamente na presença de infiltrados, que se aproveitaram do momento para promover o caos e inculcar a culpa nos patriotas”, escreveu.