Posse de Lula teve simbolismos inéditos
Foto: Carl de Souza/AFP
Do “causo” sobre a caneta usada na assinatura da posse à presença inédita de uma cachorrinha na rampa do Palácio do Planalto, a cerimônia de investidura de Luiz Inácio Lula da Silva subverteu a tradição. Já no primeiro ato oficial — o desfile em carro aberto da Catedral Metropolitana ao Congresso Nacional —, o protocolo foi quebrado: o vice, Geraldo Alckmin, e a mulher dele, Luciana, acompanharam o cortejo de dentro do Rolls-Royce, dividindo o espaço com o presidente e a esposa, Janja. O esperado era que o casal Alckmin seguisse o cortejo em outro carro.
No desembarque no Congresso, mais uma inovação. O presidente e o vice convidaram as esposas para subirem a rampa primeiro. Com um número recorde de ministras — 11 —, Lula tem enfatizado a importância da valorização da mulher brasileira, um tema ao qual voltou no discurso no parlatório do Palácio do Planalto, e o gesto simbolizou como ele e Alckmin pretendem governar.
Ao assinar o termo de posse, documento que o formaliza como presidente, Lula pediu a palavra e disse que usaria uma caneta com valor sentimental, e não a disponibilizada pelo Congresso. O presidente, então, contou que o objeto lhe foi presenteado por um apoiador na primeira vez que concorreu à Presidência, em 1989, após um comício no Piauí.
“Eu estou vendo aqui o ex-governador do Piauí, companheiro Wellington (Dias), eu queria contar uma história. Em 1989, eu estava fazendo comício no Piauí. Foi um grande comício, depois fomos caminhar até a igreja São Benedito. Ao terminar, um cidadão me deu essa caneta e disse que era para eu assinar a posse, se eu ganhasse as eleições de 1989”, contou. Em 2003 e 2011, Lula usou a caneta oferecida pelo Congresso. Porém, afirmou que encontrou o presente recentemente e decidiu que era hora de usá-lo.
A cena mais esperada da posse foi também a mais inovadora. Como o antecessor, Jair Bolsonaro, se recusou a passar a faixa presidencial, Lula a recebeu das mãos de cidadãos brasileiros que representaram a diversidade. O cacique Raoni Metuktire, 90 anos; o metalúrgico e rapper Weslley Rocha, 36; o professor Murilo de Quadros Jesus, 28; o estudante negro Francisco Carlos Nascimento e Silva, 10; a cozinheira Jussimara Fausto dos Santos; o artesão Flávio Pereira, 50, e o ativista anticapacitista Ivan Baron, 24, seguraram o objeto, colocado no peito do presidente pela catadora de recicláveis Aline Sousa, 33.