PSDB quer se reerguer se opondo ao PT

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Foto: Saul Schramm/Governo do MS

Eleito no Mato Grosso do Sul com apoio declarado ao então presidente Jair Bolsonaro, que recebeu quase 60% dos votos no estado no segundo turno contra Lula, o governador Eduardo Riedel avalia que seu partido, o PSDB, perdeu espaço com a polarização, mas tem condições de se reposicionar em um bloco de “centro ou centro-direita” que se contraponha ao PT. Em entrevista ao GLOBO, Riedel não descarta a liderança de Bolsonaro na oposição, mas critica a postura do ex-presidente após a derrota eleitoral. Ao lado de outros dois governadores tucanos, Eduardo Leite (RS) e Raquel Lyra (PE), Riedel protagoniza as inserções de TV do PSDB que começaram a ser exibidas ontem.

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O PSDB encolheu no Legislativo, mas elegeu três governadores, todos de uma nova geração política. O partido conseguirá organizar uma oposição ao PT?

Diante de toda essa polarização e radicalismo, o PSDB acabou perdendo um pouco a capacidade de dialogar com a sociedade. Acredito que tenha um papel importante neste novo momento, trazendo lideranças para formar uma nova força política de centro ou centro-direita. Também cito os governadores de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), e de Minas, Romeu Zema (Novo), como lideranças nacionais com uma visão liberal da economia, responsabilidade fiscal, o entendimento da importância de políticas públicas na questão ambiental. Como isso vai se dar, quais forças partidárias vão eventualmente se aglutinar e apresentar um nome, são processos que a política responderá.

Para assumir esse papel, o partido precisará deixar de lado lideranças como Aécio Neves, que protagonizaram disputas internas recentes?

Entendo que tem que se respeitar a história das pessoas e sua contribuição ao processo democrático. Mas surgem novas lideranças. Atravessamos a pior recessão de nossa história e depois uma pandemia, e temos um país polarizado. Creio que precisamos mudar essa agenda, e os nomes que citei me parecem capazes disso.

Bolsonaro manterá influência sobre a oposição ao PT?

Ele continua uma liderança, mas ainda não está claro se assumirá isso ou não. É preciso aguardar se estará no Brasil, se assumirá esse discurso.

Avalia que o ex-presidente teve responsabilidade pelos atos golpistas no dia 8?

Acredito que o fato de o movimento não ter uma liderança clara e efetiva acabou permitindo uma grave contaminação de propósitos por parte de uma minoria extremista. Antes de deixar o Brasil, Bolsonaro alertou para as quatro linhas da Constituição, o que gerou uma avalanche de protestos entre os bolsonaristas radicais. Não aceitam nem mesmo a fala dele, a meu ver, explícita sobre o futuro.

O silêncio após a derrota ajudou nesta radicalização?

Entendo que ele deveria ter se manifestado antes, ter uma posição após o segundo turno. Todos os questionamentos à eleição que se fizeram ao longo do tempo não se mostraram concretos ou factíveis, então entendo que ele deveria ter virado essa página, até porque deu margem para essa discussão em um longo período.

O senhor se elegeu com apoio da ex-ministra da Agricultura de Bolsonaro, Tereza Cristina (PP), e tem raízes no agro. Como o governo Lula pode se aproximar do setor?

Conheço bem o ministro Carlos Fávaro (Agricultura), que foi dirigente de instituições importantes, como a Aprosoja, e não tenho dúvida de que ele buscará dar sequência ao direcionamento da ministra Tereza, de manter o agronegócio como um esteio da economia brasileira. Entendo que o agro vai esperar a amplitude de trabalho que o Fávaro terá dentro de outras agendas do governo. Por exemplo, quais linhas serão adotadas sobre abertura de mercados internacionais, sobre aporte para subsídio no seguro agrícola. Também em relação aos conflitos fundiários e aos assentamentos, se será uma linha de regularizar o que tem ou de ampliar a reforma agrária.

Já houve estresse entre Agricultura e Desenvolvimento Agrário em relação à Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), cujo novo presidente, Edegar Pretto (PT), quer retomar os estoques públicos para regular o preço dos alimentos…

Essa é uma das linhas. É uma discussão histórica no partido que assumiu o governo. O debate sobre o lugar da Conab pode ser apenas uma decisão administrativa ou sinalizar uma mudança de rumo.

Seu chefe da Casa Civil, Eduardo Rocha, é marido da ministra do Planejamento, Simone Tebet. Isso ajuda no diálogo com o governo Lula?

Sempre ajuda, mas ele foi nomeado por mérito próprio. Temos agendas importantes com o governo federal, como a desestatização da Usina de Fertilizantes Nitrogenados III (UFN3) em Três Lagoas (MS). Vamos solicitar uma visita ao presidente da Petrobras junto com a ministra Simone, que conhece bem o assunto, para encaminhar a conclusão disso. Outro tema é a questão fundiária. Montamos um planejamento para atender às comunidades indígenas no estado, mas há demandas por parte delas em áreas legalizadas.

O Globo