PT e PL podem se unir para reeleger Lira
Foto: Bruno Spada/Câmara dos Deputados
Praticamente garantido por mais dois anos no comando da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), avançou nas negociações com os partidos aliados e está perto de assegurar que um bloco único, que reunirá os rivais PL e PT, sustente sua candidatura à presidência da Casa. As costuras para a distribuição dos demais cargos da Mesa Diretora e das comissões permanentes estão em estágio avançado e devem ser consolidadas no início da próxima semana.
A cinco dias da disputa, Lira tem apenas um adversário oficial, o deputado Chico Alencar (Psol-RJ). Apesar do alinhamento com o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), a legenda comandada por Juliano Medeiros não acompanhou a decisão dos petistas em embarcarem na postulação do alagoano.
Há a expectativa de que o deputado Marcel van Hattem (Novo-RS) também se lance na corrida pelo principal cargo da Câmara, mas o movimento ainda não foi concretizado. A eventual entrada na disputa teria como objetivo ser uma alternativa de voto para parlamentares alinhados com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que estariam insatisfeitos com a boa relação entre Lira e Lula.
Mesmo sem lançar sua candidatura oficialmente, Lira colecionou apoios a sua recondução dias após o segundo turno da eleição presidencial. A dúvida que o acompanhou nos últimos dois meses é se o seu nome teria o suporte de dois blocos partidários ou de um único grupo.
Inicialmente, o PT sinalizou que construiria um bloco governista, com o objetivo de isolar o PL e evitar que o partido de Bolsonaro ocupasse postos-chave na Câmara.
O fato de o PL ter 99 deputados eleitos, porém, representava um obstáculo para os planos dos petistas de escantearem a sigla comandada por Valdemar Costa Neto.
Com 59 deputados eleitos, o União Brasil, que seria crucial para que a iniciativa fosse bem sucedida, passou a fazer exigências para aderir ao bloco governista. A fatura incluía que o partido de Luciano Bivar ficasse com o controle de outros cargos do Poder Executivo, como os comandos da Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf), do Banco do Nordeste e da Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene).
Com esse cenário, havia o risco de “o tiro sair pela culatra” e o PT ficar no bloco menos numeroso, o que tiraria a possibilidade de o partido ocupar cargos estratégicos, como a presidência da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ). Diante do cenário, petistas aceitaram a sugestão de compor com o PL.
Por outro lado, a sigla de Bolsonaro também resistiu a aderir a um bloco com o PT, mas lideranças da legenda foram alertadas por aliados de Lira que um eventual isolamento da sigla poderia deixá-la em espaços que não seriam condizentes com uma bancada de quase 100 parlamentares.
Segundo apurou o Valor, o desenho atual da Mesa prevê Republicanos e PL responsáveis pela indicação do primeiro e do segundo vice-presidentes da Câmara, respectivamente.
Originalmente, o PL seria responsável por indicar o primeiro vice, mas um acordo foi costurado para que o posto fosse cedido para o Republicanos.
A expectativa é que o presidente nacional do Republicanos, Marcos Pereira (SP), volte a ocupar a vice-presidência da Câmara.
Do lado do PL, há a possibilidade de o atual líder da bancada na Câmara, Altineu Côrtes (RJ), ser remanejado para o posto que caberá à legenda na Mesa e ser substituído na liderança por Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), até então cotado para compor a direção da Casa.
Considerado o fiel da balança da disputa, o União Brasil avançou nas conversas para garantir a indicação do primeiro-secretário da Casa. Luciano Bivar, que ocupa o posto atualmente, planeja a recondução. De acordo com fontes, há um movimento interno para evitar que o dirigente continue a ocupar a função na Mesa.
Para garantir o comando da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) no primeiro ano do governo Lula, o PT abriu mão de um espaço de maior destaque na Mesa e a deputada Maria do Rosário deve ser a titular da segunda secretaria da Casa. MDB e PSD serão responsáveis por dar os nomes que estarão à frente das demais secretarias.
Durante as negociações para garantir o comando da CCJ, o PT fez concessões ao União Brasil, ao Republicanos e até mesmo ao PL. No caso da sigla de Marcos Pereira, o PT garantiu que entregará votos para eleger Jhonatan de Jesus (Republicanos-RR) para uma vaga no Tribunal de Contas da União (TCU). O roraimense é considerado favorito e tem o apoio de Lira, que vem sugerindo o nome do parlamentar do Republicanos para o TCU durante os encontros com bancadas estaduais – alguns tem torcido o nariz para a sugestão, mas são considerados minoria. O próprio Jhonatan tem participado dos encontros e pedido votos para ser o nome indicado pela Câmara ao órgão.
Ele conta com a concorrência de Soraya Santos (PL-RJ) e de Fabinho Ramalho (MDB-MG). O PSD, que apresentaria o nome de Hugo Leal, fechou acordo com Pereira e vai estar alinhado ao nome do Republicanos.
Nos bastidores, aliados de Lira vem afirmando que a “venda casada” da eleição do presidente da Câmara e Jhonatan não tem chances de dar errado. Além do apoio do Republicanos e de todas as legendas da oposição, o roraimense deve ter pelo menos 40 votos do PP e de boa parte do MDB, do União e do PSD.
Sobre as comissões, a expectativa é que PT, PL, PP e União se revezem nos comandos dos principais colegiados.
O União, por exemplo, deve ficar com a relatoria na Comissão Mista do Orçamento (CMO) em 2023, enquanto o PL terá a presidência da CCJ em 2024.
Fontes próximas de Lira afirmam que o presidente da Câmara quer superar o recorde de João Paulo Cunha (PT-SP), que foi eleito ao principal cargo da Mesa Diretora em 2003 com o apoio de 434 deputados.
De acordo com interlocutores do alagoano, o objetivo é sair fortalecido do processo eleitoral e se tornar um fiador “indispensável” para os planos de Lula nos dois próximos anos de governo.