Repórter da Globo se disfarçou para entrar no inferno
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Fui ao STF “na cara e na coragem”. Eu tenho credencial para trabalhar no STF, mas não achei que naquelas circunstâncias funcionaria. A secretária de imprensa do STF, Mariana Oliveira, foi cobrada logo em seguida por colegas: “Por que somente o Losekann, da Globo, obteve ‘permissão’ para entrar?”. Para o que ela prontamente respondeu: “Quem disse que ele teve permissão? Ele agiu por conta e risco como um repórter deve tentar”.
Usei máscara (daquelas para evitar a Covid), óculos de grau (daqueles que dilatam os olhos) e abaixei a cabeça – fingindo estar teclando no celular – para não ser reconhecido enquanto seguia, a pé, contra o fluxo de terroristas que seguiam em sentido contrário, fugindo da ação policial que chegou, embora tenha chegado tarde demais.
Chegando aos fundos do prédio, sabendo da existência de uma pequena escada do tipo caracol, tentei entrar no pátio, mas havia uma grade e a Polícia estava lá. Melhor a polícia, por questões de segurança. Mas a polícia não me deixaria entrar (falariam com mil “superiores”, como de praxe e eu não passaria daquela grade).
Eu senti que deveria ficar lá e observar, à espera, talvez, de uma boa chance… Foi quando uma bomba de gás lacrimogêneo foi lançada e o vento virou. Parte da fumaça voltou contra a própria polícia – que teve que correr. Aproveitei aquele momento para pular a grade e seguir em direção ao prédio do STF. O fato é que obviamente tive sorte. Sempre precisei de sorte, mas também de coragem, digo com risco de parecer pretensioso. Agora reconheço minha responsabilidade, principalmente para com meus colegas. E é por isso que digo que, depois de ver de perto todo aquele caos, caos comparado a frentes de guerra, acho que é necessário ir (e da próxima vez provavelmente irei) “armado” com uma máscara de gás (que a Globo fornece), um “disfarce” mais eficaz (talvez também um boné) etc. Mas não há como traçar, de forma completa, um modus operandi na hora do “pega pra capar”, né?!
O instinto jornalístico, para mim, sempre falou mais alto. E não consigo me ver agindo de forma diferente. Na guerra (e quando você, jornalista, é tratado como inimigo de um dos “exércitos”, no caso os golpistas), não há regras nem acordos. Meus óculos graduados, minha máscara e meu celular me salvaram de ser reconhecido e, provavelmente xingado, atacado, sei lá… Pelo menos desta vez.
Ontem (domingo, 8) entrei lá logo depois dos fatos (assim que a Polícia “limpou” a bandidagem), aproveitando um espaço que surgiu. E eu fui lá fazer meu trabalho. Guardas atônitos não chegaram a questionar minha presença. Tem um ditado que diz: “A sorte ajuda o bom jogador”. Fiquei bastante feliz com o resultado. Mas pra mim era óbvio. A repercussão mostra que talvez não tenha sido algo tão óbvio assim.
Quando vi na GloboNews que a polícia tinha “limpado” a gang, pensei: “É o meu setor, preciso entrar lá”. Até então as imagens que chegavam eram produzidas pelos próprios vândalos e por alguns integrantes do Governo que faziam vídeo-selfies. Por isso fui tentar (eu precisava, ainda que estivesse de folga – era dia do meu aniversário). Deu certo! Poderia não ter dado? Poderia, mas se não tentar, aí é que não dá certo mesmo!
Por Marcos Losekann*