Votação de Bolsonaro preocupa presidente chileno
Foto: Marlene Bergamo/Folhapress
O presidente do Chile, Gabriel Boric, 36, é hoje o mais jovem governante do mundo.
Em dezembro de 2021, quando era um ano mais novo, ele venceu as eleições de seu país, derrotando por 55,9% a 44,1% o candidato da direita, José Antonio Kast —conhecido como o “Jair Bolsonaro chileno”.
Sua vitória, e em sequência a de outros governantes de centro-esquerda, como Lula (PT), porém, não o tranquilizam.
Para ele, uma “opção tão anti-humanista como a de Bolsonaro” ter obtido 49,1% dos votos válidos “é motivo de grande preocupação”.
“Uma pergunta que temos que nos fazer como esquerda é por que, em que momento, a ideia da rebeldia foi apropriada pela direita no mundo”, afirma o presidente chileno.
Boric surgiu no cenário nacional do Chile em 2011, ao liderar protestos estudantis por uma educação gratuita que balançou os alicerces do país.
O Chile até hoje adota um modelo econômico implantado pelo ditador Augusto Pinochet em que saúde e previdência também são privatizadas.
Eleito presidente na esteira dos novos e gigantescos protestos que tomaram o país em 2019, ele empossou um ministério com 14 mulheres e 10 homens. Coordenou ainda o processo de uma Constituinte paritária e presidida por uma professora indígena, a acadêmica mapuche Elisa Loncón.
O texto de nova Constituição proposto pelo colegiado incluía a legalização do aborto e o reconhecimento do país como um estado plurinacional, dando autonomia financeira e política aos indígenas, que passariam a ser regidos por sua própria Justiça.
A população chilena, no entanto, resolveu pisar o freio, derrotando o texto proposto para uma nova Constituição em um plebiscito por 62% dos votos.
Boric foi obrigado a alterar a composição de seu governo e a abrir negociação com setores mais conservadores do país.
Nesta entrevista, concedida em Brasília um dia depois da posse de Lula, ele fala sobre o “aprendizado” que a geração que chegou ao poder em seu governo tem tido na prática. E relembra dos conselhos do ex-presidente do Uruguai José Pepe Mujica, de que é preciso caminhar “passo a passo” para “não desbarrancar”.
“Governar sempre é difícil”, diz Boric, que prevê uma maior integração entre os países da América do Sul com a chegada de Lula ao poder.