CNJ põe fim aos abusos de juíza bolsomínion
Foto: Pablo Valadares/Câmara dos Deputados
A combinação entre o ideário da extrema direita e o megafone das redes sociais já causou muitos estragos às instituições brasileiras. O Judiciário deveria passar longe disso, mas não escapou incólume.
Nesta terça, o Conselho Nacional de Justiça abriu processo disciplinar e afastou a juíza Ludmila Lins Grilo, de Unaí (MG). Discípula de Olavo de Carvalho, ela se notabilizou ao fabricar polêmicas e defender teses bolsonaristas na internet.
O CNJ examinou sete episódios em que a doutora esqueceu a toga e usou as redes como palanque. Ela ganhou popularidade e seguidores ao compartilhar ataques ao Supremo Tribunal Federal.
Em agosto de 2021, indicou um artigo que comparava ministros da Corte ao procurador-geral de Stálin, descrito como “perfeito modelo de canalha” e “jagunço-mor de um regime que perseguia implacavelmente os opositores”. Dois meses depois, ajudou a divulgar um perfil criado pelo blogueiro Allan dos Santos para driblar o bloqueio de suas redes.
Ludmila já havia sido advertida por debochar de medidas sanitárias na pandemia. Ela incentivou aglomerações e chegou a gravar vídeo com dicas para burlar a exigência da máscara em locais públicos.
Ouvida pelo CNJ, a juíza começou em tom de afronta, sugerindo que seus investigadores é que deveriam ser investigados. Depois tentou se vitimizar e disse sofrer um “assassinato de reputação”.
O discurso não sensibilizou os conselheiros. O ministro Luiz Philippe Vieira de Mello comentou que a sustentação “mais parecia um salto para outra carreira do que uma defesa”. O juiz Giovanni Olsson se disse “perplexo”, e a ministra Rosa Weber se confessou “abalada” com o grau de desrespeito ao Judiciário.
O corregedor nacional de Justiça, Luis Felipe Salomão, leu relatório sobre a atuação de Ludmila na vara criminal de Unaí. O ministro constatou que ela agia com “total desleixo”: deixou mais de mil processos parados e não dava as caras no fórum. Nas muitas horas vagas, participava de lives e faturava com a venda de cursinhos on-line.
A magistrada admitiu ter ignorado as ordens para retomar as audiências presenciais, mas alegou ser vítima de ameaças. “Vários magistrados sofrem ameaças, e nem por isso deixam de cumprir sua obrigação”, rebateu o corregedor.
O julgamento revelou mais uma semelhança entre a juíza tuiteira e o ex-presidente: os dois se dedicavam tanto às redes que não sobrava tempo para trabalhar.