Confira as versões furadas de Marcos do Val
Foto: Edilson Rodrigues/Agência Senado
O senador Marcos do Val (Podemos-ES) está no epicentro de uma nova acusação de tentativa de golpe para impedir a diplomação e posse do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva. Na madrugada de quinta-feira, 2, ele foi para as redes sociais anunciar algo que disse ser grave: avisou que iria renunciar ao mandato de senador e que, no final de dezembro, o então presidente Jair Bolsonaro o havia coagido a participar de uma operação para gravar o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) e presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Alexandre de Moraes. O plano era obter uma declaração que comprometesse o ministro que estava à frente das eleições para prendê-lo, anular o pleito e manter Bolsonaro na presidência da República.
Depois de receber ligações de Eduardo e Flávio Bolsonaro, filhos do ex-presidente, o senador capixaba mudou a versão. Ao longo do dia foi reajustando seu relato original sempre para tentar eximir Jair Bolsonaro de qualquer participação na frustrada tentativa de golpe.
Na madrugada de quinta-feira, 2, o senador Marcos do Val postou um vídeo dizendo-se irritado com quem o chama de senador bolsonarista. E avisou que a revista Veja iria publicar uma reportagem revelando uma “bomba”. Do Val disse que fora coagido por Bolsonaro a participar de uma tentativa de golpe. Mas que ele denunciou o caso.
🚨 GRAVE: O senador Marcos do Val informa que Bolsonaro o coagiu para a tentativa de um golpe de Estado. Segundo ele, a denúncia sairá na Veja. pic.twitter.com/KAyx3pO1Jp
— Desmentindo Bolsonaro (@desmentindobozo) February 2, 2023
Na mesma madrugada, o senador capixaba escreve em suas redes que iria renunciar ao mandato. Que já tinha sofrido um infarto e iria se cuidar.
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O senador disse que recebeu na manhã do dia 2 uma série de ligações de colegas pedindo para que não abrisse mão do mandato. Contou que Eduardo e Flávio Bolsonaro ligaram para ele fazendo o mesmo apelo. Do Val foi para o Senado e, no plenário conversou de novo com o senador Flávio Bolsonaro. A partir daí começou a mudar a versão da denúncia original.
Marcos do Val contou à revista Veja que o ex-presidente Jair Bolsonaro e o deputado Daniel Silveira o convidaram para uma conversa no Palácio da Alvorada. Assunto: um plano para impedir a posse do petista Luiz Inácio Lula da Silva. O primeiro contato para a conversa ocorreu no dia 7 de dezembro. Lula já estava eleito, mas não tinha sido diplomado como presidente no TSE.
Na versão original que deu à Veja, Do Val foi categórico: ao chegar no Alvorada ouviu de Bolsonaro e Silveira um plano de golpe. O então presidente queria que o senador fosse até o ministro Alexandre Moraes com um gravador escondido. Era para gravar Moraes, obter dele uma declaração comprometedora. O resultado seria uma crise política que poderia anular a eleição de 2022 e garantir a permanência de Bolsonaro no cargo. Na conversa, Bolsonaro ainda teria dito que o aparato para gravar seria cedido pelo Gabinete de Segurança Institucional (GSI).
Pouco antes das 12h da quinta-feira, 2, depois de encontrar com Flávio Bolsonaro no plenário, o senador Marcos Do Val recebeu a imprensa em seu gabinete. Ali começou a reajustar sua história. Disse que quem tinha feito a proposta de gravar Moraes fora Daniel Silveira. Bolsonaro só ficou calado. “O presidente (Bolsonaro) estava numa posição semelhante à minha, ouvindo uma ideia esdrúxula do Daniel”, disse Do Val. “Quando a imprensa diz que ele me coagiu, isso não confere”, prosseguiu o senador desmentindo as declarações dadas por ele mesmo durante a madrugada, quando afirmou que Bolsonaro o “coagiu para que eu pudesse dar um golpe de Estado junto com ele”.
O senador Marcos do Val, em entrevista à Globonews, fez mais um ajuste na sua versão original. Negou que o então presidente Jair Bolsonaro tenha oferecido a estrutura do GSI para um grampo ilegal destinado a gravar o ministro Alexandre de Moraes. Do Val alegou que ele mesmo é que interpretou que o GSI daria o suporte, mas que a sigla não fora mencionada por Bolsonaro na conversa que tiveram no Alvorada.
No início da noite de quinta-feira,2, a revista Veja divulgou o áudio da entrevista feita com Do Val. Na gravação, o senador é categórico na acusação sobre a participação direta de Bolsonaro na tentativa de golpe para impedir Lula de assumir a presidência. Do Val ainda relata que o GSI daria suporte para fazer a gravação do ministro do STF. “(Bolsonaro) disse, sim. Que o GSI ia me dar o equipamento para poder montar para gravar. Aí eu falei assim, quando eu falei que ‘mas não vai ser aceito’. ‘Não, o GSI já tá avisado’. Quer dizer, já tinha validado a fala comigo. ‘Eles vão te equipar, botar o equipamento de escuta, de gravação e a sua missão é marcar com o Alexandre e conduzir o assunto até a hora que ele falar que ele, que ele avançou, extrapolou a Constituição, alguma coisa nesse sentido.’ Aí ele falou ‘ó, eu derrubo, eu anulo a eleição, o Lula não toma posse, eu continuo na Presidência e prendo o Alexandre de Moraes por conta da fala dele’.
Na mesma entrevista, o parlamentar contou que antes de ir se encontrar com Bolsonaro e Daniel Silveira para ouvir o plano do golpe no Alvorada foi ao STF avisar Alexandre de Moraes. Disse que o ministro sugeriu que ele deveria ir lá mesmo “porque toda informação é importante”. Nesse novo relato, Do Val acabava levantando dúvidas sobre a parcialidade do magistrado que, por essa versão, poderia ter instruído uma testemunha a obter provas contra Bolsonaro. O senador foi convocado a prestar depoimento no final da quinta-feira,2, e repetiu a versão à Polícia Federal. Do Val contou ainda que teve um segundo encontro com Moraes para relatar como fora a conversa e revelar o plano golpista de Bolsonaro. Segundo o senador, o ministro do STF reagiu como quem achou a história absurda e nada mais disse.
Na manhã desta sexta-feira, 3, Moraes confirmou que teve um encontro com Do Val. Que ele relatou o plano de golpe que o magistrou chamou de “operação tabajara”. Moraes afirmou que pediu ao senador que formalizasse a denúncia, mas ele se recusou. O caso agora está sob investigação do STF.