Depredação no STF custou R$ 5,9 milhões
Foto: Pedro Ladeira-11.jan.23/Folhapress
Um levantamento do STF (Supremo Tribunal Federal), cuja sede foi a mais vandalizada pelos golpistas apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) em 8 de janeiro, mostra um ritmo alucinante de destruição do patrimônio público.
Durante pouco mais de uma hora de invasão, os vândalos atingiram ao menos 1 item do prédio a cada 8 segundos.
A área técnica do tribunal elencou 576 objetos danificados ou destruídos, entre obras de arte, móveis e equipamentos de informática, de acordo com documento produzido pela corte e obtido pela Folha. A relação é considerada ainda parcial.
Uma viatura também foi arruinada. O Toyota Hilux é o único bem que estava assegurado, no valor de R$ 94.980, mostra o documento. Os prejuízos totais apurados até agora no STF chegam a R$ 5.923.000.
A invasão começou por volta das 15h30, e o prédio só foi retomado às 16h40.
Imagens do local mostram a depredação do plenário, golpistas de verde e amarelo usando uma mangueira de incêndio para atingir obras de arte e tentativas de incendiar cadeiras e a sala da presidência. As vidraças danificadas não entraram no inventário da destruição.
A direção do tribunal comunicou no documento que finalizará em 30 dias o levantamento, uma vez que houve atenção intensificada na reconstrução do plenário para a abertura do ano do Judiciário, em evento realizado nesta quarta-feira (1º).
O rastro de vandalismo atingiu quatro vasos de porcelana, sendo três chineses; duas cadeiras e uma mesa Luis 16 e duas cadeiras no estilo neomanuelino datadas de 1920. A escultura em pedra vulcânica Dois Magistrados (1960), de Remo Bernucci, também foi desmantelada.
O saldo de estragos inclui 233 monitores de computador, 48 aparelhos telefônicos, 22 impressoras, 18 câmeras, 16 teclados, 10 scanners, 5 microcomputadores e 2 fornos micro-ondas.
Também foram identificados 43 cadeiras e 32 pedestais danificados, além de outros itens como ventiladores, umidificador de ar e mesas —de madeira e mármore.
No documento, assinado no último dia 27 pelo diretor-geral do STF, Miguel Piazzi, o funcionário disse que, devido à invasão, “foram múltiplos e severos os danos causados ao edifício-sede do STF e aos bens móveis nele acautelados, muitos dos quais de simbologia ímpar e elevado valor histórico”.
Além disso, informou que o tribunal possui sistema de segurança e vigilância eletrônica que “armazena, de forma segura, os dados monitorados”.
Divulgadas na semana passada, imagens do circuito interno do STF mostram que muitos golpistas estavam com máscaras e luvas e ignoraram as bombas de gás e de pimenta lançadas pela Polícia Judicial.
Após a invasão, a segurança se concentrou em proteger o subsolo do Supremo e os prédios anexos, onde ficam os gabinetes dos ministros e outros setores administrativos do tribunal.
É possível ver pelas imagens a Polícia Militar do Distrito Federal cedendo à passagem de manifestantes que invadiram a sede da corte e incapaz de repelir a depredação dos principais setores do prédio.
Os golpistas também vandalizaram o Palácio do Planalto e o Congresso Nacional. Todos ficam na praça dos Três Poderes, em Brasília.
O prédio do STF só foi retomado após a ajuda de reforços do COT (Comando de Operações Táticas), unidade tática de elite da Polícia Federal, e do Bope (Batalhão de Operações Especiais) do DF.
Os peritos da Polícia Federal precisaram trabalhar ao longo de três dias para lidar com a destruição no Supremo.
No plenário, os vídeos mostram a depredação dos assentos dos ministros, do público e do local onde acontecem os julgamentos. Pouco após a invasão, câmeras internas do prédio também foram quebradas.