Deputado bolsonarista vai a festa de aniversário do PT
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O deputado federal Washington Quaquá (RJ), vice-presidente nacional do PT, reuniu na última quarta-feira (8) diversos parlamentares da bancada fluminense para um jantar em Brasília com a presença do ministro da Secretaria de Relações Institucionais, Alexandre Padilha.
Em meio ao clima de confraternização governista, uma presença inusitada se destacava entre os convidados para saborear a paella do chef João Paulo Campos, do restaurante carioca Adonis: o bolsonarista Otoni de Paula (MDB-RJ).
A despeito do discurso bélico que Otoni adotou contra o PT na campanha de 2022, o deputado aparece à vontade no convescote em fotos e vídeos recebidos pela equipe da coluna.
Estiveram presentes na recepção de Quaquá diversos deputados petistas, como Reimont e Dimas Gadelha, além do próprio Padilha, que se licenciou da Câmara para assumir o cargo no Planalto.
Otoni é investigado no inquérito das milícias digitais antidemocráticas no Supremo Tribunal Federal (STF) e suas redes sociais estão bloqueadas por decisão da Corte desde 2021.
Ele já se referiu ao atual presidente como “Luladrão” e declarou que petistas seriam recebidos “na bala” caso protestassem na porta de deputados para pressionar o Congresso, como sugeriu Lula em um comício eleitoral.
Agora, questionado pela equipe da coluna sobre sua presença no evento, Otoni disse ter sido convidado pelo próprio Quaquá e pelo colega de Câmara Aureo Ribeiro (SD-RJ) recorreu a um discurso bem diferente.
“Foi uma noite onde nos confraternizamos. Precisamos vencer essa política raivosa a todo o momento e estabelecer o diálogo e pautas comuns. Não é possível que eu acredite que tudo na direita seja bom e tudo na esquerda seja ruim”, disse o deputado por telefone.
“Apesar de ter divergências ideológicas e partidárias com o Quaquá, ele será o líder da bancada do Rio de Janeiro e eu preciso ter um estreitamento com ele. Não podemos colocar nossas diferenças acima do estado que eu represento”.
Mas, apesar de seu histórico no bolsonarismo, Otoni garantiu não ter havido qualquer constrangimento no jantar.
“A narrativa bélica serviu para um momento em que havia esse clima beligerante de ambos os lados. Obviamente, passadas essas eleições, a grande contribuição que a oposição pode dar ao Brasil não é (a postura) do quanto pior. melhor, mas de gerar um norte (para o governo) através das críticas e da fiscalização. A direita não pode ter o objetivo de voltar daqui a quatro anos a partir da destruição do atual governo”, afirmou o emedebista.
Evangélico e membro da tropa de choque de Jair Bolsonaro, ele cruzou o país com o então candidato à reeleição com o objetivo de ampliar o apoio dentro do segmento cristão.
Mas, após o segundo turno, chegou a declarar que o silêncio de Bolsonaro sobre a derrota nas urnas “beirava a covardia” e previu que o aliado corria o risco de “se apequenar” politicamente.
Depois disso, Otoni buscou se afastar do ex-presidente e se aproximar do governo do PT. Chegou, inclusive, a comparecer à posse de diferentes ministros de Lula. Aliados no bolsonarismo dizem que ele “está louco para aderir”. Mas, por enquanto, Otoni afirma apenas que fará uma “oposição responsável”.
Diferentemente de outros bolsonaristas que ensaiam um descolamento da extrema-direita, Otoni tem a vantagem de não ocupar as fileiras do PL. A fidelidade partidária é hoje o principal obstáculo para correligionários de Bolsonaro que desejam negociar cargos e emendas com o governo petista.
No ano passado, o deputado optou por não acompanhar o então presidente no embarque na legenda de Valdemar Costa Neto e se filiou ao MDB, que hoje controla três ministérios no governo Lula, para disputar a reeleição.
O então bolsonarista chegou a ameaçar romper com a legenda após o diretório fluminense declarar apoio a Lula, mas permaneceu na sigla. Acabou reconduzido ao cargo como o sétimo deputado mais votado do Rio, com 158,5 mil votos.