Garimpeiros avisam colegas de ações policiais via WhatsApp
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Nas primeiras horas da manhã de ontem (6), garimpeiros que estão na Terra Indígena Yanomami se comunicavam sobre operações policiais em grupos de WhatsApp. O UOL teve acesso a um áudio que alertava sobre os locais patrulhados e orientava os colegas a esconderem ouro e armas —alvos de apreensão.
Tanto quem vem de Alto Alegre [RR], [rio] Apiau, [rio] Uraricoera vai ser abordado para ver se não tá trazendo ouro, armas… Quem tiver trazendo, vão ser enquadrado, vão responder. Só um aviso aí, quem for trazendo alguma hoje, guarda em algum lugar”.
Os locais citados são todos ligados à terra yanomami. Alto Alegre é uma cidade vizinha do território indígena. Os dois rios mencionados ligam a área yanomami a locais fora do espaço de proteção.
O áudio ainda respondeu a várias perguntas que vinham sendo feitas pelos garimpeiros, ao longo da manhã —já que a primeira mensagem postada era genérica. “[Se] Souber de alguém que tiver vindo, avisa que a Federal tá na estrada e parando todo mundo”, diz a gravação.
Muitos garimpeiros perguntaram sobre qual estrada e localidades as barreiras policiais estavam. Eles também queriam saber sobre os alvos das blitze.
Procurada pela reportagem, a assessoria da PF informou que “a instituição não está falando sobre operações na Terra Indígena Yanomami”.
Além de se articular para não perder ouro e armas, os garimpeiros passaram a segunda-feira buscando meios para deixar a Terra Indígena Yanomami. “Alguém sabe me informar em média quanto custa um aluguel de um helicóptero na região de Roraima?”, perguntava um post num grupo do Facebook.
Nas últimas semanas, o governo federal anunciou o controle do espaço aéreo, a maior presença de agentes públicos e uma operação de retirada de garimpeiros da terra yanomami, que ainda não tem data confirmada oficialmente. Essas medidas levaram a uma fuga de invasores —e, consequentemente, à alta nos preços dos voos legais e à lotação de embarcações.
O ministro da Justiça, Flávio Dino, disse que cerca de 15 mil garimpeiros ilegais estavam na terra indígena no começo deste ano. Ele declarou que o governo federal tem permitido a saída deles, sem efetuar prisões, para que a situação na região não piore.
“A nossa previsão é que esse fluxo aumente nos próximos dias, que mais pessoas saiam ainda, e nós estamos na expectativa de que, quando do início das operações policiais coercitivas, 80% desse contingente tenha saído do território yanomami”.
Mas o ministro afirmou que esta decisão não significa que haverá impunidade. Segundo ele, os garimpeiros ilegais estão sendo identificados e vão responder por crime ambiental.
“Temos um foco prioritário: os financiadores, os donos dos garimpos ilegais e aqueles que fazem lavagem [de dinheiro]. Claro que temos os executores de crimes ambientais —essas pessoas estão sendo identificadas por imagens e serão alvo do inquérito policial”.
Enquanto o governo espera o aumento do fluxo, garimpeiros relatam dificuldades em deixar a região. O UOL teve acesso a outros áudios que relatam preocupação com a falta de meios de transporte e até de comida. Muitos decidiram seguir a pé, em meio à floresta, até Boa Vista.