Lula demonstra preocupação com ritmo do governo
Foto: Cristiano Mariz/O Globo
Ao retornar da viagem aos Estados Unidos, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) fará uma nova reunião ministerial com foco na cobrança de obras e dos primeiros resultados de cada pasta, especialmente de ministros ligados a áreas de infraestrutura. Lula quer ter uma noção do que cada ministério já preparou de ações práticas do programa de governo.
Auxiliares do presidente afirmam que Lula está preocupado com o ritmo de trabalho e tem cobrado por resultados que possam ser perceptíveis à população nas próximas semanas. A ideia é que, com o retorno da agenda em Washington, o Palácio do Planalto monte uma série de agendas para colocar “Lula na rua”, rodando os estados, inaugurando obra, dando ordem de início de trabalho e anunciando programas de governo. especialmente de ministros ligados a áreas de infraestrutura. Lula quer ter uma noção do que cada ministério já preparou de ações práticas do programa de governo.
Com isso, a cobrança da Casa Civil aos ministérios tem se acentuado nos últimos dias. Cabe ao chefe da pasta, Rui Costa, o papel de acompanhar prazos e definir prioridades em cada área. Na rodada de reuniões que fez para conhecer a equipe de cada pasta, Costa passou pontos de atenção para cada ministério a serem observados nos primeiros 30, 60 e 90 dias de governo. Na próxima reunião ministerial, Costa deverá cobrar um retorno de alguns desses pedidos, que envolvem, além de orientação para não deixar os programas essenciais serem interrompidos e revisão de contratos em cada pasta, ações que devem ser entregues nos primeiros cem dias.
Os ministérios de Cidades, Transportes e Desenvolvimento Regional serão três das pastas que chegarão ao encontro com uma pressão maior. O presidente entende que é preciso ter entregas com projetos visíveis à população. É no Ministério das Cidades que está o Minha Casa, Minha Vida, que será relançado no próximo dia 14 de fevereiro na Bahia, iniciativa considerada uma das prioridades da largada do governo pelo impacto social e a capacidade de geração de emprego com a retomada de cerca de 120 mil obras paradas já identificadas pela pasta. Rui Costa tem pedido empenho, tanto ao Ministério das Cidades, quanto à Caixa Econômica Federal, para que pelo menos 80% dessas obras sejam entregues no primeiro semestre.
No Ministério dos Transportes, o ministro Renan Filho tem sido orientado pela Casa Civil a reunir um pacote de obras inacabadas em estradas para que o presidente possa fazer um anúncio da retomada. A ideia é fazer isso em 15 de fevereiro, quando Lula estará em Sergipe vistoriando intervenções na BR-101.
— Pretendo, depois da minha viagem aos Estados Unidos, fazer uma reunião com os ministérios, sobretudo os ligados à área da infraestrutura, porque já temos muitas coisas para anunciar. Recomeço de obras que estão paralisadas há 15 anos, há dez anos, 12 anos, 20 anos, e essas obras podem ser recomeçadas agora porque já tem projetos aprovados, porque já estão semiacabadas — afirmou Lula nesta quarta-feira.
A pedido da Casa Civil, o ministério do Desenvolvimento Regional trabalha com duas prioridades: a construção do programa Água para Todos e a retomada e conclusão das obras da transposição do Rio São Francisco, que abrange cinco estados. Ainda em fase de elaboração no ministério, o Água para Todos deverá apresentar opções de modernização para distribuição de água em áreas que sofrem com a seca ou desabastecimento, estruturando alternativas que substituam carros pipa. Em quase 40 dias de governo, o ministro Waldez Góes já teve quatro agendas com Rui Costa para tratar desses projetos.
— O dado concreto é que vamos tentar acabar tudo aquilo que foi começado e ficou parado. Não queremos saber de quem é a obra, de que período de governo ela foi feita, queremos saber se ela é de interesse da cidade ou do estado — afirmou Lula.
Ao destravar uma série de obras paradas, Lula pretende fomentar o mercado interno, gerando postos de trabalho, e alavancar uma agenda própria ao governo, que ainda busca ritmo. O primeiro mês foi conturbado, marcado pelos atos terroristas de 8 de janeiro, crise militar e a questão humanitária Yanomami.
Outra avaliação de integrantes do governo é que a invasão das sedes dos Três Poderes acabou atrasando em pelo menos uma semana ações práticas que já poderiam estar sendo entregues. Soma-se a isso o fato de a maioria das pastas não estar com suas equipes completas, com ministros tratando de nomeações de secretários e diretores. Reflexo desse sentimento foi verbalizado pelo próprio presidente quando, na terça-feira, em conversas com jornalistas no Palácio Planalto, Lula disse estar “angustiado”:
— Já passou um mês e pouquinho. Estou angustiado porque quero ver as coisas acontecendo logo — disse.