Lula desconfia de complô militar dentro do governo
Foto: Exército do Brasil/Divulgação
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) exonerou mais um militar com suposto perfil bolsonarista. Desta vez, a queda foi do general Gustavo Henrique Dutra de Menezes, lotado no Comando Militar do Planalto. O oficial era o responsável pela segurança do Palácio do Planalto no dia 8 de janeiro, data dos ataques golpistas. Ele foi substituído pelo general Ricardo Piai Carmona, que vai deixar a diretoria de Educação Superior Militar.
A exoneração de Dutra de Menezes, na função desde abril de 2022, começou a ser costurada logo após a tentativa de golpe de Estado e estava prevista para ocorrer até o próximo mês.
A saída do general se soma à de outros 73 de militares que se estavam à disposição da administração central do Ministério da Defesa na gestão do então presidente Jair Bolsonaro (PL): 13 da Marinha, 53 do Exército e sete da Aeronáutica.
Entre outras atribuições previstas em lei, o Comando Militar do Planalto tem por missão “contribuir com a Segurança Presidencial” e “realizar a Guarda e o Cerimonial Militar da Presidência da República”. O grupamento funciona como reforço.
Um inquérito policial, acompanhado pelo Ministério Público Militar (MPM), investiga a postura de Dutra de Menezes na desocupação do acampamento bolsonarista montado em frente ao Quartel-General do Exército, em Brasília.
Em depoimento no início do mês passado, o governador afastado do DF, Ibaneis Rocha (MDB), disse à Polícia Federal que o Exército impediu a retirada de bolsonaristas do local.
Circularam também nas redes sociais vídeos de integrantes do Exército impedindo a ação da Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF) de retirada de criminosos que estavam depredando o Planalto em 8 de janeiro.
A desconfiança de Lula em relação a nomes do Exército ficou pública já no pós-eleições, quando, no governo de transição, o petista concentrou em si as discussões sobre o Gabinete de Segurança Institucional (GSI), a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) e outras instituições diretamente relacionadas à segurança dele.
Está em vigência, por exemplo, ato de Lula que transferiu a segurança presidencial primária à PF, retirando-a, até pelo menos junho deste ano, das atribuições do GSI, que ficou responsável pela organização de viagens do presidente e pelo reforço da segurança.
Ministro da Casa Civil, Rui Costa (PT) afirmou, logo nos primeiros dias do governo, que Lula solicitou um estudo, ainda não apresentado, sobre segurança presidencial em outros países, para avaliar propostas e decidir sobre quem vai ficar a atribuição.
O chefe do Executivo pediu também a Costa um mapeamento de bolsonaristas que ainda ocupam cargos de confiança mesmo com a mudança de gestão. O relatório, contudo, também não foi entregue.
A Casa Civil foi questionada pela reportagem sobre a data que levará o mapeamento ao presidente, mas até o fechamento desta edição não havia enviado resposta.
Na mesma época das exonerações, Rui Costa argumentou que as mudanças “eram normais em trocas de governo” e que “elas continuariam”, sem apontar data.
Apesar da desconfiança que ronda o GSI, Lula tem ao seu lado, como ministro da área, Marco Edson Gonçalves Dias, de sua estreita confiança. O “general de Lula” chefiou a segurança do presidente nos oito anos dos mandatos anteriores do petista. Na administração da então presidente Dilma Rousseff (PT), ele foi diretor da Coordenadoria de Segurança Institucional, período em que foi promovido a general.
Também no mês passado, Lula trocou o comandante do Exército. Saiu Júlio César Arruda e entrou Tomás Paiva. O novo chefe da Força barrou a nomeação do tenente-coronel Mauro Cid para o comando de um batalhão de operações especiais em Goiânia. Cid foi ajudante de ordens de Bolsonaro e é investigado em inquéritos no Supremo Tribunal Federal (STF). Arruda resistia em vetar do nome dele e, por isso, foi exonerado.
No GSI, já foram pelo menos 80 exonerações. Após o 8 de janeiro, o número dois do gabinete, general Carlos Penteado, nome da gestão Bolsonaro, acabou dispensado. O general Heber Portella — próximo a Braga Netto, ex-ministro do governo anterior — ficou sem a promoção ao posto de general quatro estrelas.