Moro lidera tropa de choque bolsonarista no Senado
Foto: Ernani Ogata e Cristiano Mariz
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) deverá ter uma oposição ferrenha no Senado com a legislatura que toma posse nesta quarta-feira. Figuras como os ex-ministros Sergio Moro (União-PR) e Damares Alves (Republicanos-DF) e o ex-vice-presidente Hamilton Mourão (Republicanos-RS) prometem ser pedras no sapato do petista nos próximos anos.
O melhor dos cenários para o governo neste momento é que Rodrigo Pacheco (PSD-MG) confirme o favoritismo para se manter à frente da Casa por mais um biênio. Se não conseguir frear a candidatura do ex-ministro do Desenvolvimento Regional Rogério Marinho (PL-RN), em nome de quem o ex-presidente Jair Bolsonaro tem feito ligações, a derrota será grande.
Entre os 27 novos integrantes da Casa, cinco foram ministros de Bolsonaro e prometem ser vocais em suas críticas. Um dos principais opositores deverá ser Sergio Moro, juiz da Operação Lava-Jato responsável pela decisão que pôs Lula atrás das grades em 2018.
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O petista ficou detido na sede da Polícia Federal de Curitiba (PR) até novembro de 2019, quando o Supremo Tribunal Federal (STF) mudou um entendimento sobre prisão em segunda instância. Moro já afirmou que vai usar seu mandato para tentar fazer com que haja prisão para condenados em segunda instância e diz não ter desconforto com o fato de três de seus correligionários estarem no Gabinete de Lula.
Após se encontrar com os principais nomes à disputa da presidência do Senado, o ex-juiz declarou apoio a Marinho na quarta-feira. Quem também endossa o candidato do PL é Flávio Bolsonaro (PL-RJ) — o mais velho dos cinco filhos do ex-presidente, que está no meio do mandato de oito anos para o qual foi eleito com 4,3 milhões de votos em 2018.
O senador também declarou voto em Marinho, participando da cerimônia em que o PP e o Republicanos oficializaram seu apoio à candidatura. Em entrevista ao GLOBO no fim de semana, ele negou ter visto minutas golpistas e de intervenção no Tribunal Superior Eleitoral circulando no entorno de seu pai e afirmou que não considera os ataques de 8 de janeiro contra os Três Poderes uma tentativa de golpe.
Flávio também disse que seu pai não tem previsão de voltar da Flórida — “pode ser amanhã, pode ser daqui a seis meses, pode não voltar nunca, não sei” —, mas afirmou que não há temores de possíveis responsabilizações judiciais em uma volta. Bolsonaro é alvo de uma série de inquéritos do Supremo Tribunal Federal (STF) e no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), inclusive acerca dos constantes questionamentos sobre a confiabilidade do sistema eleitoral.
O ex-vice-presidente Hamilton Mourão também passará a ocupar um assento no Senado e deve se somar às vozes críticas a Lula, apesar de seu rompimento com Bolsonaro. A gota d’água para a relação com o ex-presidente foi o pronunciamento à nação que Mourão fez em 31 de dezembro, quando Bolsonaro já havia ido para os EUA, criticando o que chamou de “lideranças que deveriam tranquilizar a nação”, mas que acabaram contribuindo para um “clima de caos”.
Após os atos golpistas de 8 de janeiro, Mourão descreveu os atos de vandalismo em contraposição ao que classificou como “valores da direita”. Quando Lula demitiu no dia 21 o general Júlio César de Arruda do comando do Exército, no entanto, o ex-vice-presidente disse à Folha de S. Paulo que o petista queria alimentar a crise com as Forças Armadas com a troca de comando.
Nome forte da ala ideológica do antigo governo, a ex-ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos Damares Alves saiu de trás nas pesquisas para ser eleita senadora pelo Distrito Federal investindo no discurso de defesa das crianças, antiaborto e contra pautas associadas por ela à esquerda, como a suposta “ideologia de gênero”.Teve na época grande apoio da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro.
Quando era ministra, apontaram procuradores da República do Ministério Público Federal de Roraima, o governo federal agiu para esconder a gravidade da situação na Terra Indígena Yanomami (TIY), além de ter descumprido ordens judiciais para elaborar um plano emergencial de retirada dos garimpeiros. Em seu único pronunciamento no Twitter sobre o assunto, esquivou-se de responsabilidade afirmando que a política indigenista era executada por três ministérios.
A ex-ministra da Agricultura Tereza Cristina (PP-MS) também deve fazer frente ao governo, após derrotar Luiz Henrique Mandetta, que deixou o Ministério da Saúde em meio à pandemia da Covid-19 frente à conduta anticiência de Bolsonaro. Já o ex-ministro de Ciência e Tecnologia Marcos Pontes (PL) foi eleito para o Senado por São Paulo.
O líder do PL no Senado, Carlos Portinho (RJ), um dos principais articuladores da candidatura de Marinho, é cotado para assumir o comando da oposição e, portanto, das críticas ao governo. O petista também pode enfrentar resistência do PSDB: dois dos três senadores tucanos da nova legislatura declararam voto no candidato do PL para a presidência da Casa.