Partido de Bolsonaro pode apoiar reeleição do prefeito de SP
Foto: Pablo Jacob/Agência O Globo
Uma ala do PL de São Paulo se opõe à ideia de apoiar a reeleição do prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), e articula uma candidatura própria à prefeitura de São Paulo no ano que vem.
O favorito para ser representante da direita no pleito municipal é o ex-ministro do Meio Ambiente do governo Bolsonaro Ricardo Salles, que se elegeu deputado federal por São Paulo com 641 mil votos. O parlamentar afirma que tem a chancela do ex-presidente para concorrer.
Outros nomes que figuram na lista de cotados são o do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), filho do ex-presidente, e da deputada Carla Zambelli (PL-SP). A parlamentar, no entanto, diz que a possibilidade de se candidatar é nula:
— É zero (a chance de ser candidata). Antes de me pronunciar (sobre a eleição municipal), preciso entender o que pensam as mais de 256 mil pessoas que votaram em mim no município de São Paulo.
O deputado Ricardo Madalena, líder do PL na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp), argumenta que a sigla precisa de “protagonismo”:
— Tenho convicção de que teremos candidato a prefeito em São Paulo. Não podemos abrir mão desse protagonismo. Temos nomes com grande potencial como o (Ricardo) Salles, que foi o terceiro mais votado do estado. É um nome muito viável, com experiência e chances reais de chegar forte na eleição.
Madalena é próximo do deputado estadual André do Prado (PL), favorito na disputa à presidência do legislativo estadual, e minimiza as investidas de Nunes para manter o PL na base.
— É o que qualquer prefeito faria na posição dele. Mas não acredito que o PL fará parte dessa aliança — reitera o líder, acrescentando que o plano é ampliar o número de prefeituras pelo estado: hoje, o partido comanda 45 municípios.
Nas últimas semanas, o prefeito de São Paulo tem buscado costurar uma aliança à direita e se blindar de possíveis adversários. A principal estratégia é se aproximar do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos). Nunes conta inclusive com Tarcísio para tentar afastar as pretensões de Salles, dizem aliados.
No mês passado, Tarcísio e Nunes anunciaram juntos um novo pacote para tentar acabar com a cracolândia. Eles ainda têm participado de agendas de inauguração na capital e apostado em parcerias entre prefeitura e governo. A aliados, Nunes diz que não quer repetir a história do tucano Rodrigo Garcia, que adotou o lema “nem esquerda, nem direita” e não se reelegeu para o Palácio dos Bandeirantes.
Ao GLOBO, Nunes afirmou que esteve com o presidente do PL, Valdemar Costa Neto com seus principais aliados, e que há uma sinalização de apoio ao seu projeto de reeleição.
— Ainda é cedo para fazer esse debate. Mas, se o Salles for candidato, teremos eu no centro e ele na extrema-direita, além do Boulos à esquerda — afirmou o prefeito. — Dirigentes de diversos partidos (PL, PP, União Brasil, Republicanos e PSDB) estiveram comigo e sinalizaram apoio à nossa reeleição — complementa Nunes, ao citar legendas que fazem parte da base de sua gestão na Câmara Municipal.
Aliado do prefeito, o líder do PL na Câmara Municipal e presidente do diretório municipal do PL, Isac Félix , confirma o apoio:
— O PL da capital é base do prefeito e está fechado com ele (Nunes) até segunda ordem. Temos esse compromisso.
Nos bastidores, líderes políticos experientes concordam com o prefeito que ainda é cedo, inclusive para qualquer rompimento de partidos aliados, cujos correligionários dependem da execução de emendas e de recursos para seus redutos eleitorais. É preciso observar também como estará a avaliação do prefeito nos meses que antecedem a campanha eleitoral.
Uma pesquisa de opinião pública do Ipespe encomendada pela gestão Nunes mostrou que a atual administração é avaliada como “ótima ou boa” por 33% da população. O mesmo percentual de moradores de São Paulo vê a prefeitura do MDB como “regular”. E 32% dizem que é “ruim ou péssima”.
Para buscar o apoio do PL, o emedebista tem discutido inclusive oferecer a sua vice ao partido de Bolsonaro, ideia também rejeitada por alguns integrantes. Ricardo Salles, que é o favorito para concorrer pelo PL, é um deles: diz não ver sentido em “franquear apoio” ao prefeito se o partido tem força para lançar candidato próprio.
— Conversei bastante com Valdemar e a constatação foi essa. Não se fecha questão até porque temos boa relação com o prefeito, mas a ideia é que o PL tenha candidato, sim. Saiu das eleições como o maior partido da Câmara e com um perfil claro de uma bancada liberal e conservadora, não pode aderir à reeleição do prefeito — declarou Salles.
Ex-ministro e ex-secretário de Meio Ambiente na gestão de Geraldo Alckmin, Salles avalia que a eleição municipal será polarizada e vê dificuldades para o eleitor comprar a ideia de que Nunes possa ser um representante da direita.
— A composição do secretariado e as posições dele não refletem isso (governo de direita) e nunca refletiram. Não é um governo liberal, então acho que não vai colar essa história de ele querer se aproximar da direita ou do Tarcísio — afirma Salles.
O parlamentar disse que colocou seu nome à disposição do partido e que já recebeu “sinal verde” de Bolsonaro para concorrer. Segundo ele, Eduardo Bolsonaro não tem pretensão de disputar cargos no Executivo e também apoia seu nome à prefeitura. O deputado do PL ainda subestimou a aproximação de Nunes com Tarcísio e disse acreditar no apoio do governador a uma eventual candidatura.
— Não faz sentido ter um candidato da direita, que foi da mesma chapa dele (Tarcísio) e de Bolsonaro na última eleição, e não apoiar. Talvez seja o desejo do (Gilberto) Kassab (apoiar o Ricardo Nunes) — completa.