Rússia e Ucrânia apostam em Lula

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Foto: Sérgio Lima

A um mês da ida do presidente Lula à China para se reunir com seu equivalente, Xi Jinping, o Brasil avança duas casas na pretensão de articular (ou até liderar) uma frente de paz entre Rússia e Ucrânia, além de se colocar como a bola da vez para atrair financiamentos e investimentos do G-20. Audácia pouca é bobagem.

Quando Lula, após a conversa com o presidente Joe Biden, em Washington, sugeriu essa frente de países “não envolvidos” para negociar a paz, ninguém deu bola. O Brasil tem tamanho para isso? Ou é megalomania? As respostas começam a surgir.

O vice-ministro de Relações Exteriores da Rússia, Mikhail Galuzin, agradeceu a decisão brasileira de não enviar armas para a Ucrânia, como queriam os Estados Unidos e a Alemanha, e declarou à agência Tass que o governo de Vladimir Putin “está estudando a proposta de paz de Lula, mas levando em conta a evolução da situação”.

O fio da proposta de paz lançada por Lula começa com um cessar-fogo imediato e foi incluído numa resolução aprovada ontem na Assembleia-Geral da ONU, por 141 votos a favor, sete contra e 32 abstenções. Quem pediu a inclusão? A Ucrânia. Logo, tanto a Rússia quanto a Ucrânia enviaram sinais, por mais leves que sejam, de que não descartam a participação do Brasil. Lula está em campo…

Em outra investida, Fernando Haddad (Fazenda) e Roberto Campos Neto (BC) usam a reunião técnica do G-20, na Índia, para convencer as maiores economias do mundo das vantagens comparativas do Brasil num ambiente internacional conturbado. A Rússia contra o Ocidente, a China arrastada para o lado russo e ampliando sua disputa com os EUA, a Turquia descambando para a extrema direita e arrasada pelo terremoto. O Brasil, que deu uma demonstração contundente de resistência democrática, grita: “Olha eu aqui!”

Nas reuniões multilaterais e bilaterais de hoje, Haddad e Campos Neto vão tentar jogar holofotes em outros trunfos brasileiros na guerra por recursos, a começar por Amazônia, matriz energética limpa e retomada da proteção dos biomas e dos Yanomamis, que têm visibilidade internacional.

Esse discurso tem uma novidade, que começou numa frase de Lula após o encontro com Biden e ganha corpo: a preservação do ambiente associada à industrialização responsável. Segundo uma fonte da área econômica, essa mistura é “muito malcompreendida”, mas a inovação tecnológica é necessária, como nos setores de serviços e do agronegócio, com sustentabilidade ambiental, social e econômica. É assim que Brasil e Lula tentam avançar em dois campos, o diplomático e o do financiamento.

Estadão