Almirante das joias é uma contradição ambulante
Foto: Divulgação / Ministério da Defesa
Divulgação / Ministério da Defesa
Ou o que diz, agora, em depoimento à Polícia Federal que as joias eram para ser incorporadas ao patrimônio do Estado brasileiro?
Se eram para Michelle, ela poderia ter ficado com as joias desde que pagasse o imposto devido como manda a lei.
Se eram um presente oficial de um governo para o outro, ao brasileiro cabia ficar com elas sem precisar pagar nada.
Um presente oficial não se esconde, declara-se à Receita. O de Michelle veio escondido na mala de um assessor do almirante.
Uma vez aberto e apreendido, o almirante teve a oportunidade de dizer aos agentes da Receita que era um presente oficial.
Mas, não: disse que o presente era para Michelle. E escondeu que um presente para Bolsonaro estava na mala de outro assessor.
O presente para Michelle era no valor de 16,5 milhões de reais. O de Bolsonaro, que entrou ilegalmente no país, 400 mil.
Por 8 vezes, entre outubro de 2021, data da chegada do presente, e dezembro último, Bolsonaro tentou reaver as joias de Michelle.
Foi ajudado pelo Secretário da Receita, nomeado por ele, e pelo menos por 4 ou 5 militares de várias patentes. Sem sucesso.
Entrementes, teria sido tão fácil. Bastava dizer que as joias, tanto as de Michelle quanto as dele, pertenciam ao Estado brasileiro.
Não lhes ocorreu isso? Não. Porque a intenção de Bolsonaro era incorporar as joias ao seu patrimônio pessoal, ficando mais rico.
A primeira coisa que Bolsonaro disse quando estourou o escândalo foi: “Não pedi nem recebi presente algum”. Mentiu.
O dele já estava com ele. Faltava o de Michelle. A se acreditar na ex-primeira-dama, ela sequer sabia de presente.
A segunda coisa que Bolsonaro disse, por meio do seu advogado, foi: o presente dele era “personalíssimo”.
Ou seja: era para ele mesmo, não para o Estado. Daí porque o levou ao deixar de vez o Palácio da Alvorada.
Como, hoje, o Tribunal de Contas ordenará que as joias sejam devolvidas, Bolsonaro antecipou-se e anunciou que as devolverá.
Quer um caso de tentativa de rapinagem mais descarada, nojenta e amadora do que esse? O que o explica?
O caráter, ou falta de caráter, dos seus personagens. E a certeza de que mais uma vez acabariam impunes.