Argentinos também foram vítimas de escravagistas gaúchos
Foto: PRF
Um grupo de trabalhadores da Argentina foi alvo, em 2022, de um esquema criminoso para que fossem reduzidos à condição análoga à escravidão no Rio Grande do Sul. Os trabalhadores argentinos foram citados, nesta terça-feira (28), pelo vereador de Caxias do Sul Sandro Fantinel, em meio a uma fala preconceituosa contra a população da Bahia.
Em maio do ano passado, uma operação do Ministério do Trabalho e do Ministério Público do Trabalho (MPT) resgatou quatro homens que estavam em condição de trabalho similar ao escravo, em Putinga, município da região central do Estado. As vítimas eram provenientes da Província de Misiones.
Os trabalhadores vieram da Argentina com passagens compradas pelo empregador e com a promessa de ganhos de R$ 130 por dia de trabalho. Entretanto, de acordo com o MPT, eram feitos descontos por supostos adiantamentos para compra de roupas em razão das baixas temperaturas, bem como pelos dias de chuva não trabalhados.
De acordo com o Sindicato Nacional dos Auditores-Fiscais do Trabalho (Sinait), as vítimas foram mantidas em um barraco de madeira, sem forro e sem portas, sem local para alimentação, pia e banheiro. Ainda segundo o Sinait, a água para consumo e banho era retirada de uma vertente de rio e, como não havia banheiro, os homens tomavam banho no interior do barraco com baldes de água do rio.
Além disso, destaca o sindicato dos fiscais, a água para beber era puxada de outra vertente que ficava turva em dias de chuva e não recebia tratamento.
O vereador Sandro Fantinel defendeu na Câmara de Caxias do Sul que os empresários “não contratem mais aquela gente lá de cima”, após as autoridades descobrirem um esquema criminoso que manteve mais de 200 pessoas — em sua maioria da Bahia — em situação análoga à escravidão em Bento Gonçalves.
Em sua fala preconceituosa, o vereador também afirmou que “a única cultura que eles têm é tocar tambor na praia”, em referência à população da Bahia.
— Todos os agricultores que têm argentinos trabalhando, hoje só batem palma. São limpos, trabalhadores, corretos, cumprem o horário, mantêm a casa limpa e, no dia de ir embora, ainda agradecem o patrão pelo serviço prestado e pelo dinheiro que receberam. Em nenhum lugar do Estado, na agricultura, teve um problema com argentinos. Agora, com os baianos, que a única cultura que eles têm é viver na praia tocando tambor, era normal que se fosse ter esse tipo de problema — disse Fantinel, agora investigado tanto pela Polícia Civil quanto pelo Ministério Público.
O vereador, que se elegeu pelo Patriotas, foi expulso do partido nesta quarta em razão das afirmações.