Banqueiros seguem longe de Lula como na eleição
Foto: Gerd Altmann por Pixabay
A Consultoria Genial Quaest divulgou, ontem, uma pesquisa com representantes do mercado financeiro que mostra claramente a má vontade desses setores com o governo Lula. É a mesma registrada na eleição, quando apoiaram a recondução do presidente Jair Bolsonaro e a continuidade da política econômica do ex-ministro Paulo Guedes, o Posto Ipiranga do governo passado. Cerca de 94% confiam pouco ou nada no presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O levantamento foi realizado entre 10 e 13 de março e ouviu 82 representantes de fundos de investimentos de São Paulo e do Rio de Janeiro.
A pesquisa também apontou que 98% dos entrevistados consideram que a economia do país, com o governo Lula, está indo na direção errada. O pessimismo em relação aos próximos 12 meses também é grande: 78% dos representantes acham que a economia vai piorar. A pesquisa mostra também um alinhamento com o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, pois 90% consideram a relação do governo com o BC negativa; 89% temem a sua exoneração. Confiam “muito” no presidente do BC 68% dos entrevistados.
O único dado positivo para o governo na pesquisa Genial Quaest é o apoio à reforma tributária, que chega a 91% quanto à unificação dos impostos e à perspectiva de aprovar a reforma em seis meses. A desconfiança em relação à sustentabilidade da política fiscal chega a 90%, com base numa previsão de que a economia precisaria de um superávit primário entre
R$ 150 bilhões e R$ 200 bilhões. Não é uma meta inalcançável.
O resultado primário do setor público consolidado foi superavitário em R$ 99,0 bilhões em janeiro, ante superávit de R$ 101,8 bilhões no mesmo mês de 2022. O governo central e os regionais registraram superávits respectivos de R$ 79,4 bilhões e de R$ 21,8 bilhões, e as empresas estatais, déficit de R$ 2,2 bilhões. Em 12 meses, o setor público consolidado obteve superávit de R$ 123,2 bilhões, equivalente a 1,24% do PIB e 0,04 p.p. inferior ao superávit registrado em 2022.
O mercado financeiro defende como prioridade o controle de gastos/despesas, punição em caso de não cumprimento e a estabilização/controle da dívida. A primeira consideração em relação à pesquisa é o fato de que seu universo está restrito ao mundo das aplicações financeiras, os setores que mais ganham com a taxa de juros de 13,75%. Entretanto, o setor produtivo do país começa a reclamar da taxa de juros e da falta de crédito.
A pesquisa mostra também que esses setores do mercado continuam alienados em relação à gravidade da situação do país, que o novo governo procura enfrentar. Por essa razão, o posicionamento da opinião pública é muito diferente, pois 62% acham que a economia vai melhorar. Se o presidente Lula fizesse um choque fiscal, como muitos gostariam, seria um estelionato eleitoral. A pesquisa reflete o conflito distributivo que o país enfrenta.
O apoio popular quase 12 pontos acima de sua votação no segundo turno (50,9%) foi o principal fator para que a tentativa de golpe de 8 de janeiro passado fracassasse. Esse apoio deu sustentação política às decisões de Lula, do ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes para enfrentar os golpistas, bem como dos presidentes da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG).
Os economistas debatem saídas para o momento em que estamos vivendo. Serão os primeiros avalistas da qualidade da proposta de âncora fiscal em debate no governo. Ontem, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, apresentou o arcabouço do projeto ao presidente Lula, que pretende encaminhá-la ao Congresso antes de viajar à China. Substituir o teto de gastos e restabelecer a responsabilidade fiscal não são coisas incompatíveis, mas exigem competência. Se a montanha parir um rato, o governo Lula vai patinar e fracassar.
Além do presidente da Câmara, Lula está levando na sua comitiva 20 deputados, a maioria líderes de bancada, além de integrantes das frentes parlamentares. Estão representados os seguintes partidos: PT – 4; PP – 3; MDB – 2; PCdoB – 2; PSD – 2; Avante – 1; Cidadania – 1; Patriota – 1; PDT – 1; Podemos – 1; PSDB – 1; e Rede – 1. Se Lula não conseguir articular sua base na Câmara durante essa viagem, quem conseguirá?
Na sequência da âncora fiscal, o governo pretende aprovar a reforma tributária, com a transformação de cinco impostos num só. A expectativa oficial é de que seu impacto na geração do PIB seja da ordem de 20%, o que é muito otimismo. Se for a metade disso, já será um grande sucesso, invertendo a curva de crescimento da economia. “A proposta organiza o sistema tributário brasileiro como nunca foi feito antes. Qualquer economista de bom senso sabe que essa reforma está indo no caminho certo”, avalia Haddad. O Imposto sobre Valor Agregado (IVA), além de unificar tributos, elimina a cumulatividade de cobranças na cadeia produtiva e elimina distorções entre setores da economia.