Bolsonarismo prevê que fogo amigo derrubará Lula
Eduardo Guimarães
Parcela gigantesca dos problemas que os governos do PT tiveram ao longo dos cerca de seus 13 anos de duração foram oriundos de fogo amigo. Parcela do PT deixou o partido já no comecinho do primeiro governo Lula e se instalou em pequenos partidos que serviram à mídia antipetista ao atacarem os dois presidentes da República petistas com fé e fúria.
Lula está lutando para governar o Brasil em ínfima minoria no Congresso e evitar um impeachment. Devido ao fato de que foi eleito no âmbito de uma frente ampla que extrapola em muito o conjunto dos partidos que o apoiaram na campanha eleitoral do ano passado, o presidente precisa se equilibrar na retórica política.
Ao longo dos governos pretéritos de Lula e Dilma, toda vez que o Jornal Nacional atacava um deles, chamava um pefelista, um tucano e um psolista para fazerem eco às suas críticas. Era uma forma de legitimá-las.
Uma candidata a presidente pelo PSOL chamava Sergio Moro de “herói” e anunciava que era “hora de apoiar a Lava Jato”. Em 2013, um movimento de esquerda chamado “passe livre” produziu as manifestações que trouxeram de volta a extrema-direita nazisfascista e bolsonarista.
Nas últimas semanas, Lula foi atacado por declarações cautelosas sobre o conflito russo-ucraniano; o presidente tentará mediar o conflito e não conseguirá se tomar partido de um dos lados.
Impressiona, porém, a quantidade de esquerdistas que foram às redes atacar Lula por falar a verdade, que essa história de plano para matar Moro cheira mal, já que a eterna juíza teleguida de Sergio Moro, Gabriela Hardt, contrabandeou seu controlador para dentro da investigação sobre planos do PCC para matar autoridades — até dezembro do ano passado, ele não figurava como alvo.
Já vimos esse filme. O trecho mais desalentador foi em 2013, mas antes de Dilma assumir, em 1o de janeiro de 2015, foi alvo de fogo amigo por nomear ministros da frente que a elegeu e da qual também precisaria para governar. Gente do seu campo político a acusou de “estelionato eleitoral”, tese que a extrema-direita levou gostosamente aos protestos na avenida paulista.
Lula não falou besteira coisa nenhuma, sobre o caso dos planos para matar Moro. E sua fala sobre “foder Moro” foi distorcida; ele disse que, encarcerado, cometeu o erro de pensar em vingança. Quem pensaria diferente em tal situação?
Um novo governo de extrema-direita vai se tornar rapidamente uma ditadura cívico-militar até pior que a de 1964. Bolsonaro ou seu preposto — ou preposta — não arriscará perder nova eleição após “foder” o Brasil, como o “mito” fez ao longo de 4 anos. É bom que quem não quer isso comece a usar seus neurônios. Não foram feitos para enfeitar o cérebro.
Redação