Damares quer ser candidata a presidente
Foto: Cristiano Mariz
Uma das principais aliadas de Jair Bolsonaro no Congresso, a ex-ministra Damares Alves (Republicanos-DF) avalia que a temporada do ex-presidente nos Estados Unidos, que deve se encerrar na quinta-feira, serviu para ele se recompor após a derrota eleitoral. Em entrevista ao GLOBO, ela cita ainda um receio de que ele pudesse ser preso ao voltar ao país, mas que agora houve uma “volta aos eixos”.
A ex-ministra, contudo, não descarta a possibilidade de Bolsonaro ser considerado inelegível pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e, neste caso, se coloca como opção como candidata da direita em 2026. “Não esqueçam de mim. Sou boa”, argumenta a ex-ministra, que cita ainda outros nomes viáveis. Para Damares, apesar da tentativa do PL de incentivar que Michelle Bolsonaro assuma esse papel, a ex-primeira-dama, de quem é amiga, não pretende ser candidata.
Estreante no Congresso, Damares reclama do isolamento da oposição no Senado, que ficou sem o comando de comissões, e defende a criação da CPMI sobre os atos antidemocráticos. Na contramão do que pregam demais autoridades, ela diz ser preciso pensar em reparações a pessoas presas acusadas de depredar o patrimônio público durante as invasões aos prédios do Planalto, Congresso e Supremo Tribunal Federal em janeiro.
A senhora avalia que foi uma decisão acertada do ex-presidente Jair Bolsonaro ficar três meses nos EUA após deixar o cargo?
Foi certa. Ele precisava sair do Brasil. Primeiro que ele precisava descansar, se recompor para voltar. Medo de represália? O (ex) ministro Anderson (Torres) está preso. Bolsonaro fez bem em se afastar do Brasil porque havia toda uma insegurança jurídica naqueles dias. Eu acho que as coisas agora estão voltando aos eixos. Ele fez bem em sair para se recompor, para voltar forte, reunir o time, liderar. Bolsonaro é nosso líder natural, é o líder da direita, é o meu líder. Vai voltar muito bem. Está sorrindo, está alegre, está comendo.
Se Bolsonaro ficar inelegível, como pode ocorrer, quem a senhora acha que tem mais condições para herdar o eleitorado da direita em 2026?
Tem eu. Não esqueçam de mim, sou boa. Temos muita gente boa na direita, o (senador Rogério) Marinho, que é extremamente discreto, mas que foi um grande ministro, deu conta do recado. Tem o (Hamilton) Mourão, Tarcísio (Freitas), (Romeu) Zema, temos muita gente boa na direita. Agora o nosso líder ainda é Bolsonaro. Se ficar inelegível essa conversa com certeza vai ser feita e vamos escolher quem tem mais chance.
E a Michelle Bolsonaro?
Ela não quer, não fala disso. Hoje o que ela quer fazer é ajudar a fortalecer a direita, ela quer bater um recorde de mulheres filiadas ao partido. Cargo eletivo ela não fala, hoje não está no coração dela.
Como a senhora viu o episódio das joiais. Acredita que foi apropriado o ex-presidente ficar com os presentes?
Isso está sendo investigado. Estamos muito tranquilos, a investigação vai chegar no resultado que a gente espera. Como está em processo de investigação e tem muita gente falando sobre isso, eu gostaria de não falar sobre as joias.
A senhora também recebeu presentes na época como ministra? Ficou com algum?
Lá fora eu nunca ganhei presente. Eu ganhei muitos presentes no ministério, ganhei muito cocar, muito artesanato. Minha pasta lidava com mulheres presidiárias, então eu ganhava muito artesanato. Eu ganhei um sapato uma vez, acho que deve custar uns R$ 250 hoje. Eu cataloguei todos os presentes que eu ganhei, até a cocadinha que vinha da Bahia. Para minha tristeza, agora em janeiro alguém do ministério apagou o nosso arquivo.
A senhora defende a criação da CPMI dos atos do 8 de janeiro. Qual o objetivo dessa comissão?
A maior contribuição que essa CPMI vai dar é saber quem de fato estava por trás e apurar essa questão de tantas pessoas terem sido presas acusadas de terrorismo. Eu acredito que a gente teve muitas prisões indevidas. A gente vai querer que isso seja investigado. Quem sabe em futuro pensar em uma reparação a essas pessoas que tiveram suas vidas interrompidas por uma prisão indevida e acusadas de terroristas.
Qual a estratégia da oposição para evitar um isolamento no Senado após ficar sem nenhuma comissão?
O isolamento já está imposto. O fato de não terem respeitado a proporcionalidade, que a legislação nos garante, da representatividade nas comissões, isso já foi uma afronta. Como a gente reagiu com isso? Vamos mostrar que a gente pode trabalhar e mostrar produtividade porque nossas propostas são muito boas.
O seu partido, o Republicanos, tem conversado com o governo para aderir à base. Se isso acontecer, a senhora fica ou se desflia?
Mesmo se meu partido se declarar da base eles respeitam a objeção de consciência. Não sairia porque já está muito claro que se eles forem para base, eu me manterei desse jeito. Só se eles me expulsarem, mas eu não sairia do partido.