Ex-chefe da Abin se recusa a informar arapongagem bolsonarista
Foto: Pedro Ladeira – 16.dez.2020/Folhapress
Nos três primeiros anos do governo Jair Bolsonaro (PL), a Abin (Agência Brasileira de Inteligência) usou um programa secreto para monitorar a localização de cidadãos a partir de dados do celular.
As informações foram divulgadas pelo jornal O Globo, que acessou documentos e ouviu o relato de servidores da Abin.
Na prática, qualquer celular poderia ser monitorado sem justificativa oficial. Há relatos de que o programa foi usado até mesmo contra agentes da Abin e um procedimento interno foi aberto para apurar os critérios de uso da tecnologia.
COMO É O PROGRAMA?
A ferramenta “FirstMile” permitia monitorar os passos de até 10 mil pessoas a cada 12 meses. Para iniciar o rastreio, bastava digitar o número de celular da pessoa.
O programa cria um histórico de deslocamentos e permite a criação de “alertas em tempo real” da movimentação de alvos em diferentes endereços.
O software foi comprado por R$ 5,7 milhões da israelense Cognyte, com dispensa de licitação, no final do governo Michel Temer (MDB). A ferramenta foi usada pelo governo Bolsonaro até meados de 2021.
Sob condição de anonimato, um integrante do alto escalão da Abin declarou ao jornal O Globo que o sistema podia ser usado “sem controle” e que não era possível identificar acessos indevidos.
Ele acrescentou que o sistema era operado sob a justificativa de haver um “limbo legal” já que o acesso a metadados do celular não está expressamente proibido na lei brasileira. A Abin de Bolsonaro operava a ferramenta alegando “segurança do Estado”.
O Globo procurou Alexandre Ramagem, ex-chefe da Abin e eleito deputado federal com o apoio de Bolsonaro. Ele não quis detalhar o uso do programa.
“Isso é com a Abin. Tem contrato, tem tudo. A contratação está toda regular. Se tiver algum questionamento, tem que fazer à Abin.”
O UOL questionou a Abin sobre o uso do programa. A matéria será atualizada quando houver retorno.