Le Monde vê Bolsonaro em reclusão e solidão
Foto: Skyler Swisher/Orlando Sentinel/AP
Em reportagem da edição desta quinta-feira, 3, o jornal francês Le Monde classificou a rotina de Jair Bolsonaro (PL) nos Estados Unidos como “limitada”. Hospedado em solo americano desde dezembro de 2022, o ex-presidente ocupa seu dia a dia entre palestras para apoiadores brasileiros e raras aparições em lives nas redes sociais. Em tom irônico, a matéria discorre sobre como a vida de Bolsonaro, antes engajado nas plataformas e aclamado como “mito” no Brasil, foi reduzida “ao silêncio, reclusão e solidão”.
“Em três décadas, como vereador, deputado e depois presidente, Bolsonaro nunca havia sofrido uma derrota eleitoral. Melancolia, depressão, ele afunda e seus parentes não o reconhecem mais”, cita. Segundo o jornal, apesar de Bolsonaro ter escolhido um território conservador como a Flórida para se alojar, o ex-presidente não costuma receber muitas visitas. Nem de autoridades alinhadas à direita nem mesmo da família.
Logo após a eleição presidencial, no ano passado, o Le Monde publicou um editorial definindo a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva como um “alívio planetário”.
Na reportagem desta quinta, o jornal afirma que as aparições de Bolsonaro em público também são incomuns, e apoiadores que tentam ver o ex-presidente pessoalmente costumam sair desapontados. “O artilheiro ultrajante do passado apenas lhes dá algumas piadas e meios sorrisos. Em dois meses, o ex-capitão perdeu quase 400 mil seguidores no Instagram.”
Há dois meses nos Estados Unidos, Bolsonaro ainda não teria sido convidado pelo seu “amigo”, o ex-presidente americano Donald Trump, a visitá-lo na mansão em Mar-a-Lago, conforme destaca a reportagem. O perfil, inclusive, afirma que os seus três filhos estão “bastantes ausentes”. A ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, por sua vez, retornou ao Brasil para o início do ano letivo com a filha do casal. Ainda em tom irônico, o jornal diz que Michelle está frequentemente ocupada, “preparando seu próprio futuro na política” em Brasília.
O custo de vida na Flórida também não está favorável para o ex-presidente. Segundo Le Monde, a permanência de Bolsonaro no estado já custou cerca de 200 mil euros. Só o aluguel da casa estaria por volta de mil dólares a diária, cerca de R$5.000. Para arcar com o custo de vida na região, o jornal cita que o ex-presidente estaria se oferecendo como “estrela convidada” para participar de conferências VIP ao redor do país.
No entanto, o cachê oferecido ao ex-capitão não ultrapassaria US$10.000, valor que não alcança os milhões arrecadados por outras lideranças, como o ex-presidente Barack Obama e até o atual mandatário brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva.
No próximo sábado, 4, Bolsonaro e o deputado Eduardo Bolsonaro irão participar da CPAC, um dos maiores eventos conservadores dos Estados Unidos, que acontece em Washington. A CPAC, sigla em inglês para Conferência de Ação Política Conservadora, é conhecida por reunir as principais autoridades da direita mundial. O discurso do ex-presidente está marcado para o último dia de palestras, às 14h do horário local. Não há informações, no entanto, de que Bolsonaro estaria recebendo para discursar no evento. E o Le Monde tampouco faz referência à presença do ex-presidente na conferência: existe a expectativa de que ele se encontre com Trump, que também é aguardado na CPAC.
Como mostrou o Estadão, Bolsonaro já participou de dois eventos organizados por apoiadores na Flórida, um deles promovido em Miami por uma organização americana associada ao ataque ocorrido no Capitólio, quando uma turba de apoiadores de Trump tentou impedir a certificação da eleição de Joe Biden em 6 de janeiro de 2021. A Turning Point USA foi fundada pelo americano Charlie Kirk, anfitrião do encontro e apontado nos EUA como parte da engrenagem que ajudou a financiar o comício de Trump que precedeu a invasão do Congresso americano.
Recentemente, a revista Time destacou a rotina do ex-presidente nos Estados Unidos. Segundo o periódico, o ressurgimento de Bolsonaro na Flórida é um “espetáculo bizarro”, que marca a tentativa do ex-presidente em voltar aos holofotes. Apelidado de “Trump dos Trópicos”, a revista questiona o que o ex-presidente estaria planejando com a sua estadia, ao invés de estar tratando de seu próprio futuro político no Brasil, onde sua imagem está em jogo.