Lula é aconselhado a não romper com União Brasil
Foto: Wilton Junior/Estadão
A sobrevivência do ministro das Comunicações, Juscelino Filho, passou por um cálculo político no Palácio do Planalto. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi informado por articuladores do governo no Congresso de que os padrinhos de Juscelino não aceitavam a demissão sumária do ministro e culpavam o PT pelos ataques. Na prática, uma dispensa de Juscelino, nesse momento, significaria votos contrários da bancada do União Brasil – a terceira maior da Câmara, com 59 deputados – a projetos do governo.
Lula conversou sobre o assunto, nos últimos dias, com os presidentes da Câmara, Arthur Lira (PP-AL); do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), e com o senador Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), um dos fiadores de Juscelino. Todos o aconselharam a pedir que o ministro desse explicações públicas e não o jogasse ao mar agora.
A estratégia ficou combinada na reunião desta segunda-feira, 6, entre Lula, Juscelino e os ministros Alexandre Padilha (Relações Institucionais) e Rui Costa (Casa Civil), no Planalto. O presidente não gostou do silêncio de Juscelino diante da avalanche de episódios de irregularidades com o uso do dinheiro público, revelados pelo Estadão.
De 26 a 30 de janeiro, por exemplo, o ministro usou um avião da Força Aérea Brasileira (FAB) e desfrutou de diárias pagas pelo governo para ir a São Paulo. Teve duas horas e meia de compromissos oficiais. O restante do tempo foi dedicado a uma agenda privada, como participação em leilão de cavalos de raça. O Estadão também mostrou que, quando era deputado federal, Juscelino destinou R$ 5 milhões do orçamento secreto para asfaltar uma estrada que passa em frente a fazendas dele e de sua família, em Vitorino Freire (MA).
Antes mesmo dos escândalos envolvendo o titular das Comunicações, porém, o União Brasil já estava dividido no apoio a Lula. Mesmo com três ministérios na Esplanada – Comunicações, Turismo e Integração –, o partido declarou “independência” do Planalto e ameaçou divulgar um manifesto dizendo que não seria “subserviente” ao governo.
Sob pressão, Lula decidiu não pagar para ver, ao menos nessa temporada em que ainda não tem base aliada sólida na Câmara e precisa de votos para aprovar assuntos fundamentais para o crescimento da economia, como o novo arcabouço fiscal. A dificuldade foi admitida nesta segunda pelo próprio Lira, que comanda o Centrão.
“Temos um governo que foi eleito com margem de votos mínima e que precisa entender que temos Banco Central independente, agências reguladoras, Lei das Estatais e um Congresso com atribuições mais amplas”, afirmou o presidente da Câmara, na Associação Comercial de São Paulo.
Pesou ainda para a decisão de manter Juscelino o fato de Lula não querer dar início a uma reforma ministerial com apenas dois meses de governo. Nos bastidores, porém, a situação do ministro é considerada insustentável a médio prazo.
O líder do União Brasil na Câmara, Elmar Nascimento (BA), também avisou Padilha que a dispensa de Juscelino agora, sem que ele tentassse se explicar, representaria uma “humilhação” para o partido. Seria uma declaração de rompimento, que teria troco no Congresso.
Uma entrevista na qual a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, defendeu o afastamento de Juscelino foi considerada o estopim para esse desfecho. Integrantes do União Brasil avaliaram que, ao pedir a cabeça do ministro, Gleisi conseguiu unir integrantes do partido, mesmo aqueles que não endossaram sua indicação. E assim Lula foi convencido a deixar Juscelino na Esplanada. Ao menos por enquanto.