Novo cede a vontades de Zema para “segurá-lo”

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Foto: Edilson Dantas/ Agência GLOBO

Após o Novo relaxar algumas diretrizes de seu estatuto, o governador de Minas Gerais, Romeu Zema, indicou que permanecerá no partido. Ele era cortejado pelo PL, sigla do ex-presidente Jair Bolsonaro. Entre as principais mudanças engendradas pela direção do Novo, a mais recente é a autorização para uso do Fundo Partidário — desde sua fundação, em 2011, a sigla se recusava a usar verba pública. A legenda já havia agradado Zema ao permitir coligações na eleição do ano passado.

Na contramão do encolhimento do Novo, que não conseguiu superar a cláusula de barreira, Zema se reelegeu no primeiro turno em Minas, no ano passado, e foi um dos incentivadores de uma postura mais pragmática do partido.

Por ter elegido apenas três deputados federais, o Novo perdeu acesso ao tempo de propaganda na TV e ao fundo partidário a partir deste ano. Os recursos que serão utilizados pela sigla, em um primeiro momento, são os rendimentos de valores repassados ao Novo desde 2015, quando passou a receber o fundo. Mesmo vetando o uso de verba pública, o Novo considerou que os recursos poderiam ser redistribuídos a outras siglas, caso fossem devolvidos à Justiça Eleitoral, e decidiu fazer uma aplicação com esses valores nos últimos oito anos. Segundo dirigentes, o montante total aplicado está na casa dos R$ 100 milhões.

— Era como se o Novo, por ser contra a pólvora, estivesse indo para uma guerra usando estilingue — afirmou Zema ao GLOBO, sobre a recusa em usar o fundo enquanto outros partidos eram irrigados por esses recursos.

O partido também pretende fazer novas mudanças no modelo de definição de candidaturas. Até as eleições municipais de 2020, o Novo tinha um processo seletivo, uma espécie de “minivestibular”, submetendo potenciais candidatos a provas e entrevistas. Com limitações do próprio partido para expandir esse processo, o Novo deixou de disputar eleições em municípios do interior de Minas naquele ano, e viu candidatos apoiados por Zema migrarem para outras siglas para concorrer. O processo seletivo também foi posto em xeque após serem apontadas inconsistências no currículo de Filipe Sabará, escolhido candidato à prefeitura de São Paulo, que acabou expulso da sigla durante a campanha.

— A gente costumava dizer que o processo seletivo parecia uma prova para ser engenheiro da Nasa. O partido pode investir em outros caminhos, estipulando critérios para ter candidatos que sejam ficha-limpa e fazendo auditorias nas contas dos diretórios estaduais, para manter a ética e a transparência sem prejudicar o próprio crescimento — avalia Zema.

Após reformular o processo, que passou a ser mais voltado à formação programática de candidatos no ano passado, o Novo decidiu passar a dar maior ênfase a ensinar estratégias e métodos de campanha.

—A imensa maioria das pessoas que vêm para o Novo não tem experiência política. Se tivermos uma estrutura que possa oferecer um melhor direcionamento de como estruturar, pensar e executar uma campanha, certamente o desempenho lá na frente será melhor — diz o presidente do Novo, Eduardo Ribeiro.

Após se eleger com uma estratégia de outsider em 2018 e acumular embates com a Assembleia Legislativa de Minas no início do mandato, Zema passou a se dedicar mais ao diálogo com parlamentares e à montagem de uma base política. Segundo interlocutores, o próprio governador tem apontado que essa adaptação lhe permitiu sobreviver politicamente e crescer nas eleições de 2022, enquanto vários expoentes da onda de renovação de 2018 perderam espaço.

O resultado de Zema em Minas, combinado ao apoio explícito do governador ao então presidente Jair Bolsonaro no segundo turno, fez com que o PL passasse a sondá-lo sobre uma filiação. Seu presidente nacional, Valdemar Costa Neto, expressou esse desejo a aliados.

Zema, porém, tem dito a interlocutores que se sente confortável no Novo. Ele já começou a articular a preparação de seu vice, Mateus Simões (Novo), como possível candidato à sua sucessão, em 2026. No início do ano, Zema também teve problemas com a bancada do PL na Assembleia, que entrou em rota de colisão com seu secretário de Governo, Igor Eto, responsável pela articulação política junto com Simões.

Fundo partidário — Na semana passada, convenção nacional do Novo aprovou autorização para uso do fundo partidário. Desde sua fundação, em 2011, a sigla se recusava a usar verba pública.
Coligações — O Novo passou a permitir coligações com outros partidos, na última eleição, para atender o governador de Minas, Romeu Zema, que formou uma aliança com nove partidos.
Escolha de candidatos — O partido reformulou o processo seletivo de candidatos e está mais voltado para a formação desses quadros, com ênfase no ensino de estratégias e métodos de campanha.

O Globo