Prefeito de SP agora nega ser de direita
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Prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB) procura o apoio do PL, mas nega que seja de direita. “Vim da periferia”, argumenta. Em entrevista à coluna, revelou que votou em Bolsonaro no segundo turno contra Lula, mas ponderou ter “grandes amigos” no PT.
O prefeito acedita que, no ano que vem, tanto o ex-presidente quanto o atual terão um impacto menor na eleição. “Em eleição municipal, as pessoas discutem o problema da cidade. Não vai ter polarização”. Abaixo, os principais trechos da entrevista.
Quando vereador, o senhor integrou a base de apoio do prefeito Fernando Haddad (PT). No aspecto geral, contudo, a sua atuação é mais alinhada ao conservadorismo. Inclusive, tem buscado o apoio do PL, partido de Bolsonaro, para a eleição. Como o senhor se define no espectro político?
Meu pai era classe média, abriu um negócio que deu errado e tivemos que ir pra periferia, Parque Santo Antônio. Cursei a escola pública, usei serviço de saúde público, transporte público. Aí passou, eu montei meu negócio, uma salinha de dois por dois, e deu certo.
Então eu acho que a história da minha vida é mais ou menos o que eu sou na política. Um cara que tem uma visão do que é empreender nessa cidade, do que é ser classe média, morar na periferia. E não é muito esse negócio de esquerda ou direita, de radicalismo, que importa. Sempre votei na Câmara em todos os projetos que fossem de interesse da cidade. Os projetos bons do Haddad, eu apoiei. Os ruins, não. Por exemplo, quando ele mandou projeto para tirar o teto da correção do IPTU.
Então o senhor se definiria como de centro?
Centro. Porque eu tenho uma facilidade de conversar com todos os setores. Tenho grandes amigos no PT, tenho grandes amigos no PL, no União Brasil, no Podemos, no Republicanos. Eu faço um diálogo com todos.
Ontem, um jornalista me mandou um WhatsApp dizendo: “Eu queria entender essa estratégia de trazer ao seu entorno todos aí da direita”. Aí eu respondi com um bonequinho dando uma risadinha e disse: “Eu, direita? Hahaha.” Sou um cara que veio da periferia, que traçou o maior programa habitacional da cidade.
Sou um cara que inaugurou, por exemplo, um centro de acolhimento pra homens trans, outro centro de acolhimento para mulheres trans, que aumentou em seis vezes o atendimento do Trans Cidadania. Está muito cedo pra falar da politica eleitoral em si.
Mas o senhor fez uma reunião com presidentes de partidos e até recebeu confirmação de apoio de alguns deles, como Ciro Nogueira (PP), para 2024.
Acabou que saíram algumas matérias que desvirtuaram um pouco, porque o Ciro teve uma postura, já na hora do jantar, mais incisiva. Mas a reunião foi a apresentação da gestão, do que a gente está fazendo, do que a gente tem planejado, do cenário, da avaliação do governo, da avaliação do meu nome. Foi quase uma prestação de contas,
Aquela reunião deu uma repercussão maior porque estavam presidentes nacionais de partidos, mas eu tenho feito reuniões com o pessoal da Associação Comercial, com entidades da igreja, vereadores.
Em relação ao PL, partido do Bolsonaro, o ex-ministro e atual deputado Ricardo Salles tem se articulado para disputar a prefeitura contra o senhor.
Difícil eu te falar o que o PL vai fazer. O PL faz parte da nossa base desde o governo anterior, esteve com a gente nas eleições de 2020, fazia parte da nossa coligação e continua participando do nosso governo. Os vereadores do PL votam com a gente. Acho que é natural que continue. Não teria, do ponto de vista da cidade de São Paulo, motivo para separar o que vem dando certo.
Evidentemente, pode ter alguma situação de influência nacional, que é o caso da vontade do deputado que é meu xará, Ricardo. Acho que, para ser prefeito, você tem que ter uma relação muito boa com a Câmara pra encontrar uma solução ou você não avança. Você tem que conhecer Itaim Paulista, Capão Redondo, Perus…
Você tem que saber o que que são os problemas com relação de drenagem, a questão de mobilidade, a questão da educação, a questão da saúde. Tocar essa cidade, o que não é fácil. O que eu acho é que, talvez, ele pudesse se inteirar um pouco mais do que é o dia a dia da cidade. Mas se, por acaso, o PL decidir apoiá-lo e lançá-lo, tudo bem.
O senhor chegou a ligar ou mandar mensagem a Bolsonaro para pedir o apoio do PL?
Não. Eu não tenho o telefone dele. Não estive mais com Bolsonaro, nem pessoalmente nem por telefone, desde que começou a campanha de 2022. Estive com ele antes, durante a negociação da dívida de São Paulo, envolvendo o Campo de Marte. Foi um sucesso.
O maior acordo da história da cidade. Tratamos com o presidente Bolsonaro, o então ministro Tarcísio e com o então advogado-geral da União, Bruno Bianco.
No segundo turno entre Lula e Bolsonaro, em quem o senhor votou?
No Bolsonaro.
Caso não consiga o apoio do PL, o senhor teme ficar espremido, sem espaço, entre o candidato apoiado por Bolsonaro e o candidato apoiado por Lula, que será Guilherme Boulos (PSol)?
Em eleição municipal, ainda mais em São Paulo, as pessoas discutem os problemas da cidade. Não vai ter polarização. Alguém vai estar preocupado se é Lula ou se é Bolsonaro?
A pessoa quer saber se tem vaga na creche pra o filho dele, quer saber se o problema de enchente, que ele tinha, foi resolvido. Quer saber se a cidade está iluminada, quer saber com relação à questão do transporte, quer saber da questão da oportunidade de emprego e de renda.
A candidatura de Boulos preocupa o senhor?
Ele teve 40% (de votos) no segundo turno (contra Bruno Covas). O que me preocupa é eu chegar lá e poder apresentar tudo o que a gente está fazendo pela cidade. Agora, se vai ser Boulos, se vai ser Ricardo Salles, não tô nem aí. O que o Boulos vai falar? Que invadiu qual lugar.
O senador Giordano, do seu partido, o MDB, diz que vai se lançar candidato a prefeito contra o senhor.
Giordano? Quem que é Giordano?
Suplente que assumiu vaga no Senado após a morte do major Olímpio.
Não dá nem para comentar, né?