Presentes da Arábia Saudita ‘causam’ há muito tempo
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O vexame que Jair Bolsonaro protagoniza há dez dias por causa das joias das arábias remete a um caso parecido. Ocorreu há meio século nos EUA, também com a mulher de um presidente conservador e muitas joias (diamantes, esmeraldas e rubis) presenteadas pela realeza da Arábia Saudita.
Em 1969, Pat Nixon, a primeira-dama, recebeu do príncipe saudita Fahad, então em viagem oficial a Washington, um conjunto formado por um par de brincos, colar, pulseira, anel e broche — tudo de esmeralda e diamante.
Dois anos depois, o rei Faiçal presenteou a mesma Pat com um par de brincos de dar inveja a Michelle. Eram incrustados de diamantes e rubis.
E, em 1972, mais um mimo da realeza da Arábia Saudita. Desta vez não apenas para a mulher de Richard Nixon, mas também para as filhas do casal: uma pulseira de diamantes para Pat, um alfinete de diamantes e rubis para Julie e um outro de diamantes e safira para a primogênita, Tricia.
As joias, porém, não foram parar onde deveriam — o arquivo nacional dos EUA. Em vez de registrar oficialmente os presentes recebidos, o quarteto foi acometido de ataques de esquecimento triplo. Assim como Bolsonaro, o presidente, a primeira-dama e as duas filhas esqueceram deste detalhe vulgar, que é o de comunicar oficialmente que ganharam presentes de muitos e muitos quilates.
Deu-se ali, na Casa Branca, portanto, no coração do poder mundial, o efeito Bolsonaro com cinco décadas de antecedência.
O enredo americano não tem ministro usado como mula, mas acrescenta um detalhe constrangedor ao roteiro: ao menos para o primeiro lote de joias, o casal Nixon pediu uma avaliação numa empresa especializada. Brincos, colar, pulseira, anel e broche valiam US$ 52 mil em valores da época (ou US$ 489 mil se for corrigido pela inflação).
As joias só foram registradas em maio de 1974, quando o “Washington Post” revelou a história e obrigou Pat e suas filhas a fazerem o que deveria ter sido feito assim que foram presenteadas.
O caso apanhou Nixon num momento em que vivia um turbilhão político. Três meses depois, o republicano renunciou à Presidência dos EUA. Não por causa das joias, evidentemente. Foi apeado do poder pelas revelações do caso Watergate. Os presentes da realeza da Arábia Saudita, contudo, entraram em sua biografia como uma marca inextinguível. Assim como acontecerá com Bolsonaro.