Trump fez Bolsonaro sabotar o Mais Médicos

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Foto: Hugo Barreto/Metrópoles

Lembra-se do “Mais Médicos”, programa que trouxe ao Brasil 11 mil médicos cubanos para trabalhar em municípios remotos onde os médicos brasileiros não queriam pôr os pés?

Em 2018, candidato a presidente, Bolsonaro antecipou que acabaria com o programa, e o fez. Disse em novembro:

“Nós não podemos botar gente de Cuba aqui sem o mínimo de comprovação de que eles realmente saibam o exercício da profissão. Você não pode, só porque o pobre que é atendido por eles, botar pessoas que talvez não tenham qualificação para tal”.

Segundo pesquisa do Ipespe, em parceria com a Universidade Federal de Minas Gerais, 85% das pessoas atendidas pelo programa consideravam que a assistência médica melhorara.

Mike Pompeo, que foi diretor da CIA e secretário de Estado no governo de Donald Trump, afirma em livro de memórias que articulou o fim do programa no Brasil e de um similar no Equador.

Em tradução do jornalista Joaquim de Carvalho, Pompeo revela:

“Longe de executar algum tipo de programa de missão médica de boa vontade, Havana força os médicos cubanos a trabalhar no exterior e depois confisca até 90% de seus miseráveis salários. Decidimos tentar esmagar esse esquema e conseguimos que Brasil e Equador expulsassem milhares de médicos entre eles”.

Lula, ontem, relançou o programa criado em 8 de julho de 2013 pela presidente Dilma Rousseff. Justificou:

“Nesses 80 dias de governo, não temos feito outra coisa a não ser tentar recuperar tudo aquilo que tinha sido feito de bom, que tinha dado certo, e que foi destruído. É como se você voltasse de férias e tivesse ocorrido um terremoto na sua casa”.

“Estamos colocando cada peça no lugar outra vez, preparando o país para o próximo período. Quando completarmos 100 dias, nós já teremos recolocado na prateleira todas as políticas públicas que nós criamos e que deram certo nesse país”.

Lula tem pressa. Quer mostrar ao fim dos primeiros 100 dias de governo que a tentativa fracassada de golpe em 8 de janeiro não o impediu de agir. Na semana passada, comentou com ministros:

“[O mandato é] muito curto. Nós não temos muito tempo para ficar pensando no que fazer, temos que fazer”, anotou o jornalista Bernardo Mello Franco.

Em fevereiro, Lula relançou o Minha Casa Minha Vida. No início de março, recriou o Bolsa Família. Na semana passada, ressuscitou o Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania.

Resgatar programas que deram certo é visto por muitos como falta de imaginação ou prova de que Lula olha para o país pelo retrovisor, sem se dar conta de que o mundo, hoje, é outro.

Pode ser que seja isso – ou não. A recente pesquisa Ipec (ex-Ibope) conferiu que o Brasil continua polarizado por Lula e Bolsonaro. Pouco mudou depois das eleições de outubro último.

Lula sabe que deverá seguir assim por um tempo indefinido, e que o quadro econômico que herdou de Bolsonaro é muito mais adverso do que o que ele enfrentou em 2003 e em 2007.

Faz sentido, pois, que queira, primeiro, reforçar a fidelidade dos que o apoiaram há cinco meses, enquanto monta sua base de sustentação no Congresso, sem a qual não irá a lugar algum.

Ao assumir a Presidência da República pela primeira vez, ele disse que não poderia errar, que estava proibido de errar. A sentença não perdeu validade desde então, e ela o impede de dormir bem.

Metrópoles