A malandragem do ministro da Justiça de Bolsonaro
Foto: Cristiano Mariz/Agência O Globo
Na conversa que Anderson Torres teve, dias antes do segundo turno, com o diretor da PF na Bahia, Leandro Almada, para montar a operação feita pela PRF no dia 30 de outubro, o então ministro da Justiça tentou disfarçar o seu objetivo principal — que era o de barrar a chegada dos eleitores aos locais de votação nas regiões em que Lula havia sido mais bem votado no primeiro turno.
Tendo ao lado o então diretor-geral da PF Marcio Nunes, que também saiu de Brasília para Salvador para essa reunião, Anderson determinou a Almada que seus comandados deveriam ajudar a PRF na operação. Mas que disse que a ordem era para ele ser rigoroso com os eleitores tanto de Lula quanto de Jair Bolsonaro. Ou seja, se houvesse transporte irregular de eleitores, essa irregularidade teria que ser barrada.
A aparente imparcialidade da recomendação não se sustenta quando se olha quais foram os resultados da disputa presidencial no primeiro turno na Bahia.
No dia 2 de outubro, Lula saiu das urnas com 69% dos votos (72% no segundo turno) e Bolsonaro com magros 24% (27% no segundo). A partir desses percentuais, é ocioso dizer quem seria prejudicado com essa determinação.
Anderson Torres tinha em mão não só a certeza de que a Bahia, o quarto maior colégio eleitoral do Brasil, era importante para a reeleição de Bolsonaro. Tinha mais: possuía um “boletim de inteligência” produzido pela então diretora de Inteligência do Ministério da Justiça, Marília Alencar — uma delegada que, posteriormente, foi trabalhar com ele na Secretaria de Segurança do DF. O documento foi produzido após o primeiro turno e detalhava os locais em que Lula havia sido mais votado.
Nas investigações em curso, Leandro Almada, o atual superintendente da PF no Rio de Janeiro, foi ouvido.