
Anderson Torres teme apoio dos bolsonaristas
Foto: Cristiano Mariz/Agência O Globo
A mobilização de bolsonaristas em torno do ex-ministro da Justiça Anderson Torres, preso há mais de 100 dias no Distrito Federal, pode colocar em risco a estratégia da defesa, que busca evitar “politizar” o caso e descolá-lo de Jair Bolsonaro.
Na última segunda-feira (24), dois movimentos paralelos colocaram em alerta aliados de Torres que ainda não desistiram de tentar convencer o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), a derrubar a prisão do ex-titular da Justiça.
O primeiro foi um pedido do deputado federal Capitão Augusto (PL-SP) a Moraes para fazer uma “breve visita de cortesia” a Torres, detido no Batalhão de Aviação Operacional da Polícia Militar, no Guará, região administrativa do DF.
Capitão Augusto é um dos integrantes da tropa de choque bolsonarista que assinou o pedido de instalação da CPMI dos atos golpistas de 8 de janeiro, para tentar responsabilizar agentes do governo Lula.
Na petição, o parlamentar não esclarece o objetivo da “visita de cortesia”, termo comumente empregado em Brasília para agendas protocolares entre autoridades – quando elas não estão presas, claro.
“É uma questão humanitária, para dar uma força, fico preocupado com a possibilidade de ele ter perdido 12kg e estar tentando suicídio. Não tem nada a ver com o processo, não conversei com o advogado dele, com a família, é uma iniciativa pessoal”, justificou o deputado à equipe da coluna.
De acordo com os advogados de Torres, uma psiquiatra da Secretaria de Saúde do DF atestou a impossibilidade de o ex-ministro da Justiça de “comparecer a qualquer audiência no momento por questões médicas durante uma semana”.
O argumento sensibilizou a PF, que adiou um depoimento previsto para a segunda-feira (24).
Também preocupou a defesa de Torres um vídeo em que o pastor Malafaia, um dos mais próximos aliados de Jair Bolsonaro, defende Torres e ataca frontalmente Alexandre de Moraes.
“A vergonha total e a prova de que ele (Moraes) é o supremo ministro da injustiça: ele manda prender o secretário de segurança pública de Brasília, que foi ministro da Justiça de Bolsonaro. Não estava aqui, estava no exterior, está preso até hoje”, criticou Malafaia, chamando Moraes de “ditador-mor da toga”.
No vídeo de três minutos, Malafaia compara a situação de Torres à do general Gonçalves Dias, que pediu demissão do Gabinete de Segurança Institucional após ser flagrado por câmeras do circuito interno do Planalto conversando com invasores durante os atos golpistas.
“Anderson Torres estava de férias, fora do Brasil durante a invasão do 8 de janeiro. Preso. Ministro de Bolsonaro”, diz o texto compartilhado por Malafaia. “Gonçalves Dias aparece em imagens (mantidas sob sigilo) interagindo com invasores. Solto. Ministro de Lula.”
No entorno de Anderson Torres, a avaliação é a de que as duras críticas de Malafaia acirram ainda mais os ânimos e podem acabar produzindo o efeito contrário: unindo o Supremo na defesa de Alexandre de Moraes.
A visita do parlamentar também provoca temores já que, até aqui, Torres recusou um plano de lideranças bolsonaristas de fazer visitas frequentes e transformá-lo em uma espécie de mártir, conforme informou a colunista Bela Megale.
Torres foi preso após os atos golpistas de 8 de janeiro, que culminaram com a invasão e a depredação da sede dos três poderes. Na época dos atentados, era secretário de segurança pública do Distrito Federal e estava em viagem com a família nos Estados Unidos.
Ao manter Anderson Torres preso, Moraes afirmou que o ex-titular da Justiça “suprimiu das investigações a possibilidade de acesso ao seu telefone celular, consequentemente, das trocas de mensagens realizadas no dia dos atos golpistas e nos períodos anterior e posterior e às suas mensagens eletrônicas”.
Apenas 100 dias após os atos golpistas em Brasília, a defesa de Torres entregou ao Supremo as senhas pessoais de acesso à nuvem de seu e-mail pessoal.
“Na Câmara e no Senado, estão encarando a detenção de Torres como uma prisão política”, disse um amigo do ex-ministro. “O precedente da história da senha é horrível para toda a classe política. Significa que quem não entrega a senha na hora, agora vai preso.”
Conforme informou a coluna, a gota d’água na delicada situação do ex-ministro da Justiça foi o aprofundamento das investigações envolvendo o uso da máquina estatal para atrapalhar a votação de eleitores de Lula no segundo turno.