Como Lula vai desmascarar autor da CPI
Foto: TON MOLINA / AFP
A CPI mista dos Ataques Golpistas ainda nem começou os trabalhos, mas já está em curso uma primeira disputa entre os aliados de Lula e os oposicionistas no colegiado. O pivô é o deputado bolsonarista André Fernandes (PL-CE), autor do requerimento para instalação da CPI.
De um lado, o PL insiste em ter Fernandes como um dos três representantes do partido na comissão, mesmo ele sendo alvo de um inquérito aberto no Supremo Tribunal Federal (STF) por divulgar mensagens de apoio e incentivo aos mesmos atos golpistas que agora diz querer investigar.
O inquérito, aberto a pedido da Procuradoria-Geral da República (PGR), foi prorrogado no início deste mês por mais 60 dias pelo relator, o ministro Alexandre de Moraes.
Aliados de Lula pressionam para que Fernandes não integre o colegiado e ameaçam ir à Justiça para que ele não participe da comissão.
Caso não consigam impedir a presença do bolsonarista na CPI, os petistas já decidiram que vão tentar aprovar um requerimento que o obrigue a depor, criando a inusitada situação de um integrante da CPI que tenha de prestar esclarecimentos à mesma comissão da qual faz parte.
Fernandes é um dos alvos prioritários dos lulistas, ao lado de Bolsonaro, do ex-ministro da Justiça Anderson Torres e do ex-ministro do GSI general Augusto Heleno.
No caso do deputado, a ideia é utilizar o palanque da CPI para constranger o seu autor e reforçar a noção de que a invasão e a depredação das sedes dos Três Poderes não foram atos restritos ao dia 8 de janeiro, e sim resultado de uma escalada golpista incentivada antes, durante e depois por uma série de agentes públicos – entre eles, Jair Bolsonaro, André Fernandes e boa parte da bancada do PL.
Fernandes se tornou alvo de inquérito no Supremo porque, dois dias antes dos atos golpistas, o deputado divulgou em sua conta no Twitter um vídeo intitulado “ato contra o governo Lula”. “Neste final de semana acontecerá, na Praça dos Três Poderes, o primeiro ato contra o governo Lula. Estaremos lá”, afirmou.
Após a invasão, publicou imagem de um armário vandalizado do ministro Alexandre de Moraes no STF, no qual incluiu a seguinte legenda: “Quem rir, vai preso”. No mês passado, ao subir à tribuna da Câmara para criticar o governo Lula, Fernandes se exaltou e quebrou o microfone.
Ao determinar a abertura do inquérito contra o bolsonarista, Alexandre de Moraes escreveu que a conduta do parlamentar, considerando o contexto geral dos atos golpistas, “se amolda, em tese”, aos crimes de de terrorismo, associação criminosa, abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado, ameaça, perseguição e incitação ao crime.
Procurado pela equipe da coluna, o deputado não havia respondido à reportagem até a publicação deste texto.