CPMI golpista reacende disputa da CPI da covid

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Foto: Agência O Globo

A disputa pelo controle da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI), que irá investigar as invasões golpistas do dia 8 de janeiro e deve ser instaurada nesta quarta-feira, trouxe à tona nomes que protagonizaram a CPI da Covid, em 2021. Isso porque o embate para definir os integrantes da comissão tem mobilizado parte da oposição e da base do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no Congresso. Nomes de peso, como Jair Bolsonaro e o presidente da Câmara dos Deputados Arthur Lira (PP-AL), também têm atuado para interferir nas escolhas.

A ideia, no entanto, é que os deputados e senadores escalados para participar do grupo já tenham alguma experiência em outras CPI’s. É o caso do trio de senadores que comandou a CPI da pandemia, há dois anos, composto por Omar Aziz (PSD-AM), Renan Calheiros (MDB-AL) e Randolfe Rodrigues.

Naquele ano, o objetivo da CPI era investigar a atuação do governo Bolsonaro durante a crise sanitária. O colegiado contou com a participação de 11 senadores titulares e sete suplentes. Calheiros chegou a afirmar, por exemplo, que aquela era uma espécie de “sétima vida” em sua trajetória política. Marcado por acusações de corrupção, ele voltou a receber destaque na Comissão e foi um dos mais críticos ao governo.

Relembre quem protagonizou a oposição, a “tropa de choque” aliada a Bolsonaro e veja como estão hoje:

Omar Aziz (PSD-AM)
O senador Omar Aziz ganhou visibilidade nacional após presidir a CPI da Covid. Na ocasião, ele foi uma das vozes mais incisivas de oposição ao governo federal e se notabilizou por redobrar os questionamentos aos depoentes, além de ter dado voz de prisão ao ex-diretor de logística do Ministério da Saúde, Roberto Dias.

Ex-governador e vice-governador do Amazonas, ele buscou permanecer no Senado Federal nas eleições de 2022 — e venceu com margem apertada na disputa contra o ex-prefeito de Manaus, Arthur Virgílio (PSDB-AM). Agora, o nome de Aziz circula como possível relator da CPMI, embora ele tenha evitado confirmar sua participação.

Renan Calheiros (MDB-AL)
Renan Calheiros foi o relator da CPI da Covid e, por isso, teve notoriedade durante as investigações. Naquela altura, Lula chegou a dizer que o trabalho do político foi “uma obra-prima”: “É com esse relatório, e com a quebra de sigilo de 100 anos do Bolsonaro, que nós vamos mostrar quem está sendo honesto no Brasil”, escreveu.

Com mandato até 2027 no Senado Federal, ele atuou na campanha para eleger o filho, o ex-governador de Alagoas Renan Filho (MDB-AL), que concorreu e venceu a disputa pelo Senado no último ano. Em dezembro de 2022, Lula também anunciou o nome de Filho como ministro dos Transportes.

Líder do governo no Senado, Randolfe Rodrigues (Rede-AP) e o deputado Lindbergh Farias (PT-RJ), vice-líder do governo, já citaram Calheiros como possível relator da CPMI. Ele, por sua vez, tem evitado abordar a possibilidade.

Randolfe Rodrigues (Rede-AP)
As assinaturas para a criação da CPI da Covid foram colhidas pelo senador Randolfe Rodrigues, o que garantiu a ele o posto de vice-presidência do colegiado. Em seu segundo mandato no Senado, ele foi um forte opositor de Bolsonaro e chegou a ser procurado por outros partidos para concorrer ao governo do Amapá em 2022.

Em fevereiro do último ano, no entanto, ele afirmou que desistiria de sua pré-candidatura a governador para integrar o núcleo da campanha do então ex-presidente Lula. Desta vez, ele chegou a tentar impedir a CPMI e adiar a sessão do Congresso para sua instalação, mas segue como um dos nomes apontados para compor a comissão.

Luis Carlos Heinze (PP-RS)
Quem também aproveitou a repercussão da CPI foi Luis Carlos Heinze, que, na pandemia, chegou a se baseou em notícias falsas e estudos inconclusivos para defender remédios ineficazes contra a doença. Ele foi candidato ao governo do Rio Grande do Sul em 2022, mas só chegou a 4,28% dos votos e perdeu a disputa.

Marcos Rogério (DEM-RO)
Considerado líder da “tropa de choque” do governo na CPI, Marcos Rogério recebeu destaque na ala bolsonarista. Entre as ações, o político apresentou um relatório paralelo em que rebateu as acusações de que o então presidente teria demorado para adquirir vacinas.

Ele defendeu a existência de uma “autonomia médica” para indicar o tratamento precoce com medicamentos comprovadamente sem eficácia e, no parecer, pediu que os governadores fossem investigados pelo Ministério Público.

Em 2022, concorreu ao governo de Rondônia, mas perdeu para o Coronel Marcos Rocha (União). Após o resultado, ele disse ter saído da eleição com “sentimento de vitória”.

Eduardo Girão (Novo-CE)
Embora tenha se defendido como “independente” em relação ao governo, Eduardo Girão foi quem apresentou um requerimento para que a investigação abarcasse também repasses a governos estaduais. A iniciativa foi interpretada como uma investida em defesa da gestão de Bolsonaro porque desvirtuaria o foco do colegiado.

Em fevereiro deste ano, o senador anunciou que deixaria o Podemos, sigla que integrou desde 2019, para se filiar ao Novo. O parlamentar também teve reconhecimento entre apoiadores do ex-presidente por abordar temas como a criminalização das drogas e por ter criticado recomendações da Organização Mundial de Saúde (OMS).

Eduardo Braga (MDB-AM)
Durante a pandemia, o senador foi reconhecido por direcionar críticas ao colapso na rede de saúde do Amazonas. Já naquela época, ele atribuiu o ocorrido a dois fatores: “incompetência e irresponsabilidade” das autoridades estaduais e federais. Assim como outros senadores, Braga também disputou as eleições para o governo de seu estado, mas perdeu para o adversário, Wilson Lima, do União Brasil.

Tasso Jereissati (PSDB-CE)
Na oposição, Tasso Jereissati chegou a considerar que Bolsonaro seria responsabilizado ao final dos trabalhos do colegiado. Na opinião do político, o ex-presidente poderia ser apontado como o “grande chefe” de uma “política desastrosa” no enfrentamento à pandemia.

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Ainda naquele período, o tucano se mostrava otimista em relação às eleições presidenciais, uma vez que dizia acreditar na terceira via. No início de 2022, Jereissati concluiu seu mandato como senador.

Otto Alencar (PSD-BA)
Otto Alencar ficou conhecido por questionar os depoentes da CPI com perguntas técnicas relacionadas à pandemia, já que ele é médico. Com tom duro, ele fez críticas contra Bolsonaro e tratou de temas como a negociação da compra de vacinas.

Em um dos embates mais lembrados, Alencar questionou a médica Nise Yamaguchi sobre a existência de um gabinete paralelo ao Ministério da Saúde, a mudança na bula de medicamentos e o uso ineficaz da cloroquina e hidroxicloroquina.

O médico ressaltou o fato da profissional indicar um medicamento sem comprovação e pediu exemplos de testes feitos. Enquanto ela respondia, ele a interrompeu para dizer: “A senhora não soube explicar o que é o vírus. A senhora não sabe nada de infectologia”. Em 2022, ele foi eleito, mais uma vez, senador pela Bahia.

Jorginho Mello (PL-SC)
A atuação de Jorginho Mello ficou marcada por posicionamentos favoráveis a Bolsonaro. Em uma das sessões da CPI, ele chegou a bater boca com o relator Renan Calheiros quando, durante a fala do senador, Mello interrompeu para defender o então presidente.

Naquele dia, ele falou para Calheiros ir “pros quintos”. Em resposta, o senador disparou: “Vai você com seu presidente e Luciano Hang”. Ele rebateu dizendo: “Vai lavar a boca para falar do Luciano”, e foi chamado de “vagabundo”. Nesse momento, então, devolveu: “Vagabundo é você, ladrão, picareta”.

Em 2022, Jorginho Mello foi eleito governador de Santa Catarina com a maior porcentagem de votos válidos do Brasil, considerando o primeiro e segundo turnos.

Humberto Costa (PT-PE)
Ex-ministro da Saúde, Humberto Costa foi um dos senadores que mais receberam destaque na CPI. Tanto que, em 2022, ele lançou o livro “A política contra o vírus: bastidores da CPI da Covid”, uma parceria com o senador Randolfe Rodrigues.

Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ)
Membro da “tropa de choque” bolsonarista na CPI, Flávio Bolsonaro ocupou a vaga de Luis Carlos Heinze na comissão. Isso porque, em julho, Ciro Nogueira (PP-PI), que era titular, assumiu como ministro da Casa Civil. A vaga dele, então, foi ocupada por Heinze — e o filho “Zero 1” entrou no lugar.

Em tom provocativo, ele chegou a retirar a máscara do rosto por diversas vezes durante as sessões. Como justificativa, dizia que “não conseguia ler” direito com o equipamento.

Marcos do Val (Podemos-ES)
O senador Marcos do Val atuou como aliado bolsonarista na CPI. Ele chegou a ser repreendido pelo presidente da comissão Omar Aziz quando disse usar remédios sem eficácia contra a Covid-19.

Em fevereiro deste ano, ele anunciou que renunciaria seu mandato e, depois, voltou atrás. O parlamentar afirmou ter feito a afirmação em um “momento de muita raiva” após ter sido chamado de “traidor” por internautas.

Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE)
Líder do governo no Senado, Fernando Bezerra Coelho disse reconhecer que a gestão de Bolsonaro pode ter atrasado a compra de vacinas para a imunização, mas afirmou que “não houve dolo”. Em 2022, ele não tentou a reeleição e pediu aposentadoria proporcional ao Senado.

O Globo