Governo decide enfrentar bolsonarismo na CPMI

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Foto: Evaristo Sá/AFP

O ministro Alexandre Padilha (Relações Institucionais) disse nesta quinta-feira (20) que a divulgação de novas imagens sobre o 8 de janeiro e a consequente demissão do general Gonçalves Dias do comando do GSI configuram uma “nova situação política”.

Segundo ele, o governo do presidente Lula (PT) tem orientado os líderes no Congresso Nacional a apoiarem a instalação de uma CPI para investigar os ataques aos três Poderes para, segundo ele, barrar a propagação de falsas teses sobre os atos golpistas daquele dia.

Padilha é o ministro responsável pela articulação política com o Congresso, onde o governo tem acumulado derrotas e ainda não conseguiu formar uma base sólida de apoio.

“Isso cria uma nova situação política, faz com que aqueles que passaram pano para os atos terroristas de 8 de janeiro [tentem] criar uma teoria absurda da conspiração, um verdadeiro terraplanismo, a teoria que tentam construir de que as vítimas daqueles atos terroristas (…) [tenham] responsabilidade sobre a atuação dos terroristas do 8 de janeiro.”

A queda do comandante do GSI (Gabinete de Segurança Institucional) deve tornar inevitável a criação de uma CPI no Congresso sobre os atos golpistas, que já vinha sendo cobrada pela oposição sob resistência da gestão Lula, que agora deverá mudar de estratégia.

“Vamos orientar líderes dos partidos da base a indicar membros para essa CPI, vamos enfrentar este debate político que está tentando ser criado por aqueles que passaram pano aos atos terroristas de 8 de janeiro”, completou Padilha.

Também nesta quinta, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), disse que o governo Lula deveria ter sido favorável a uma CPI desde o início da discussão. O presidente do Senado disse que a CPI será criada em sessão do Congresso na semana que vem.

A saída do general do governo ocorreu nesta quarta-feira (19) pouco depois de uma reunião com o presidente, que aceitou o pedido de demissão. Trata-se da primeira queda de ministro na atual gestão, três meses e 19 dias depois do começo do mandato.

O ministro pediu demissão do cargo na tarde desta quarta após a divulgação de imagens que colocam em xeque a atuação do órgão durante o ataque golpista de 8 de janeiro.

Segundo as imagens da invasão ao Planalto, os golpistas receberam água dos militares e cumprimentaram agentes do GSI durante os ataques. Nos vídeos, o próprio general Gonçalves Dias circula pelo terceiro andar do palácio, na antessala do gabinete do presidente da República, enquanto os atos ocorriam no andar de baixo.

Padilha, na mesma entrevista desta quinta-feira, também saiu em defesa do ex-ministro e afirmou que as imagens não são suficientes para “destruir a biografia de uma pessoa”.

“GDias saiu, pediu demissão, já deu suas alegações para isso. Ele acredita que a melhor forma de ele poder se defender, apresentar a sua versão, as motivações e sua atuação no combate aos atos terroristas do dia 8 de janeiro. Ele tem uma biografia, tem uma história.”

“Acho que qualquer edição, vídeo vazado com edição, não é suficiente para destruir a biografia de uma pessoa, mas tem que ser apurado, não só o GDias, o ex-ministro do GSI, mas todos aqueles que estavam naqueles vídeos”, afirmou o ministro.

A relação de amizade entre o general Gonçalves Dias, chamado de GDias pela equipe do governo, e Lula é antiga. Foi o militar que chefiou a segurança do petista durante seus dois primeiros mandatos (2003-2010), atuando como uma espécie de sombra em agendas no Brasil e no exterior.

A crise que levou à saída do chefe do GSI teve como estopim a divulgação, pela CNN Brasil, de imagens do circuito interno da segurança durante a invasão da sede da Presidência da República que mostram uma ação colaborativa de agentes com golpistas e a presença de Gonçalves Dias no local.

Padilha disse estranhar que as imagens trazem borrados os rostos dos demais agentes que foram mostrados dentro do Palácio do Planalto, mas que o mesmo tratamento não foi dado ao general.

“Inclusive me estranha muito alguns agentes militares estarem com as imagens borradas nos seus rostos para não serem reconhecidos e o ex-ministro não ter o mesmo tratamento nesse vazamento que foi feito”, acrescentou.

Uma semana após os ataques de 8 de janeiro, porém, o governo divulgou vídeos editados, em particular com trechos que evidenciavam que os militantes eram aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

Além disso, recusou um pedido da Folha, via Lei de Acesso à Informação, para divulgar a íntegra das gravações.

Folha