Governo usará cargos para conter debandada no União Brasil
Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
Num esforço para tentar evitar a debandada do União Brasil da base do governo, o Palácio do Planalto iniciou uma “operação de varejo” – ou seja, uma negociação individual – para tentar acomodar indicações do partido em cargos ligados principalmente à extinta Fundação Nacional de Saúde (Funasa), estrutura que era subordinada ao Ministério da Saúde, mas passará ao controle do Ministério das Cidades.
Além da Funasa, outros cargos de segundo escalão devem ser colocados na mesa de negociação.
A operação depende, no entanto, dos contornos finais da medida provisória (MP) que trata justamente da extinção da Fundação e está em tramitação no Congresso.
Mais do que isso, o governo Lula terá que amarrar essa negociação junto ao MDB, partido que controla hoje o Ministério das Cidades por meio de Jader Barbalho Filho (MDB-PA). Neste sentido, também podem ser ofertados no “cardápio” cargos no Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) e Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), todas cadeiras do chamado segundo escalão da estrutura federal.
Isso porque, em conversas com lideranças do União Brasil, a gestão petista percebeu que a sigla pode estar inclinada a abandonar o Ministério do Turismo dependendo do que receber em troca, ainda que essas cadeiras não sejam no comando de ministérios.
A aceitação a essa alternativa teria aumentado depois que o próprio União Brasil percebeu que o Ministério do Turismo não é mais uma pasta tão produtiva quanto já foi no passado. Com o fim do orçamento secreto, dizem as fontes, o ministério teria ficado mais limitado nas suas ações políticas.
A negociação de “varejo” já está em curso. Na quarta-feira (12), por exemplo, o ministro da Secretaria de Relações Institucionais da Presidência da República, Alexandre Padilha (PT), recebeu o deputado Elmar Nascimento (BA), líder do União Brasil na Câmara, e a senadora Soraya Thronicke (União-MS), em seu gabinete para tratar do assunto.
Na quinta-feira (13), foi a vez de Antônio de Rueda, vice-presidente da sigla. E, nesta semana, após a viagem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à China, haverá uma reunião entre governistas e o deputado federal Luciano Bivar (PE), presidente do partido.
O argumento petista é que, com a extinção da Funasa, os cargos no Ministério das Cidades serão menos limitados do que eram anteriormente, do ponto de vista de articulação política.
Na prática, essas cadeiras funcionarão como uma representação ou uma superintendência da pasta nos Estados, uma função cobiçada já que o ministério controla programas como o Minha Casa Minha Vida, que tem orçamento de aproximadamente R$ 10 bilhões.
“Talvez ter bons cargos regionais em volume ajude mais a contemplar os parlamentares do que uma ministra que não tem tanta representatividade na legenda”, explicou uma fonte próxima à cúpula do governo petista. “A Funasa pode ser um burrinho que virou unicórnio”, complementou outro interlocutor.
Por conta de toda essa negociação, o governo Lula vai monitorar de perto o julgamento do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sobre a desfiliação de Daniela Carneiro, atual ministra do Turismo, do União Brasil. De acordo com as fontes do Planalto, o pior cenário seria se o TSE impedisse a migração dela para o Republicanos. Isso porque, nesta hipótese, ela ficaria como uma “ministra zumbi” no aspecto partidário: nem conseguiria atrair nomes do Republicanos para votar pontualmente a favor do governo, nem manteria laços com o União Brasil, partido com o qual ela já rompeu publicamente.
Na semana passada, o marido de Daniela Carneiro e então presidente do partido no Rio, o prefeito de Belford Roxo, Waguinho Carneiro, capitaneou um movimento de saída de políticos fluminenses do União Brasil. A ministra integra a lista de deputados federais que tentam, via Judiciário, a desfiliação sem perda de mandato. Waguinho filiou-se ao Republicanos, que não compõe hoje a base governista, e também vai comandar o diretório do partido no Rio.
Ministros e parlamentares alinhados ao Planalto consideram que Daniela é mais da “cota Lula” do que propriamente uma indicação da bancada do União Brasil. O motivo é que a ministra do Turismo chegou ao cargo depois de ajudar o presidente da República com o eleitorado evangélico do Rio de Janeiro, o que foi considerado um movimento importante na campanha eleitoral presidente.
Caso a ministra de fato migre para o Republicanos, entretanto, está completamente descartada, segundo fontes da direção da legenda, a adesão do partido presidido por Marcos Pereira (Republicanos-SP) à base do governo Lula.