Heloisa Helena faz valer antipetismo na Rede e expulsa Marina
Foto: Montagem sobre fotos de Guito Moreto e reprodução
A disputa entre a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, e a sua aliada de longa data, a ex-senadora Heloísa Helena, pelo comando da Rede Sustentabilidade teve desfecho neste domingo: a integrante do governo Lula (PT) saiu derrotada. Como mostrou O GLOBO, as duas protagonizam uma racha no partido que diverge sobre o destino da sigla.
O Congresso da sigla, que ocorreu entre os dias 14 e 16 de abril, terminou na reeleição de Heloísa e Wesley Diógenes como porta-vozes do partido— como são chamados os dirigentes — e foi marcado por uma série de trocas de ofensas entre os grupos. De um lado, a chapa de Heloísa “Rede Vive Pela Base” contava como o apoio do senador Randolfe Rodrigues. Do outro, Marina apoiava a chapa “Rede Vive”, que indicou Joenia Wapichana e Giovanni Mockus ao comando da sigla.
No total, Heloísa e Diogénes obtiveram 234 votos contra 165 do outro grupo.
Marina afirmou que sairia de lá “sangrando” por conta dos ataques sofridos. A ministra usou a imagem de um “bisão”, um bovino de grande porte, sendo atacado por leões por todos os lados para falar de como se sentia com o resultado.
— Ele é muito forte, muito grande, mas ele morreu. Neste momento, saio daqui sangrando — disse.
Na reunião, adversários de Marina Silva chegaram a afirmar que a ministra ofereceu cargos em troca do apoio à sua chapa e que ela seria “amiga de banqueiros”.
— Taxações indevidas, insinuações que ferem honras e biografias. Eu jamais faria isso com quem quer que seja. Já fui chamada de homofóbica, fundamentalista. Não é com rótulo, com conversinhas por trás, e palavras doces pela frente, que vamos ser diferentes — afirmou.
Como mostrou O GLOBO, um dos temas que opõe as duas frentes da Rede é a eventual fusão com o PT ou o PSB. Na chapa vencedora de Heloísa, Diógenes chegou a integrar a ala da Rede que veio a público defender esse caminho. O atual porta-voz chegou a subscrever, junto com 19 correligionários, um abaixo-assinado pela reformulação da sigla, o que foi repudiado por Marina e seus 164 aliados. Em 2022, a Rede elegeu apenas dois deputados federais e um senador. Preocupado em superar a cláusula de barreira, o partido aprovou, antes da disputa eleitoral, uma federação com o PSOL. A união vale até 2026.
“Chegamos às vésperas do nosso Congresso sem ter viabilizado a Rede como um partido orgânico e capaz de impulsionar os valores que nos propusemos a construir. A Rede não conseguiu eleger uma bancada numericamente expressiva em 2022 e tampouco conseguiu manter importantes parlamentares que passaram pelo partido desde a sua fundação”, diz o texto do abaixo-assinado.
O documento teve o apoio de Randolfe Rodrigues (AP), que colocou amenizou o conteúdo do texto:
— Foi uma proposta que fiz e formulei, mas acho que esse debate já está vencido. A ampla maioria do partido compreende a viabilidade da Rede, tanto que é por isso que teremos um Congresso dia 14 — declarou o senador antes do encontro.
Apesar de Randolfe avaliar o episódio como superado, apoiadores de Wapichana e Mockus apontavam esta divergência como a principal.
— Tivemos cartas públicas que defendiam que a Rede deveria acabar e ser incorporada em um partido grande. A Rede vive um momento muito importante da sua história, na construção da frente ampla. Para isso, precisa continuar existindo. Estou junto de Marina Silva — afirmou a deputada estadual por São Paulo Marina Helou.
Condução do partido
Os grupos da ex-senadora Heloísa Helena e da ministra Marina Silva (Meio Ambiente) disputam o comando da Rede. A ala da ex-senadora defende uma fusão com o PT ou PSB, enquanto Marina é contra.
Eleições de 2022
No ano passado, Marina reatou com Lula e o apoiou para presidente, enquanto Heloísa fez campanha para Ciro Gomes (PDT).
Trajetórias políticas
Heloísa foi expulsa do PT em 2003 por se posicionar contra a reforma da Previdência de Lula. Ela fundou o PSOL e disputou o Planalto em 2006. Já Marina permaneceu no partido até 2009 e apoiou a reeleição de Lula contra a ex-colega de bancada no Senado.