Lula trabalha para tirar ideias golpistas das cabeças militares

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Foto: Cristiano Mariz

Em mais um aceno aos militares, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) recebe nesta terça-feira integrantes das Forças Armadas promovidos a generais no Palácio do Planalto. Essa é a terceira agenda do petista com membros da caserna para amenizar a crise entre o governo e militares ocorrida entre janeiro e fevereiro deflagrada, principalmente, em razão das invasões de 8 de janeiro.

Lula participará da Cerimônia de Apresentação dos Oficiais Generais, promovidos em 31 de março de 2023. As promoções ocorrem três vezes ao ano e esta é a primeira do novo mandato do petista. Ao todo, 56 oficiais das três forças militares (Exército, Marinha e Aeronáutica) foram promovidos a generais.

O presidente estará acompanhado os chefes das Forças Armadas, o general Tomás Miguel Miné Ribeiro Paiva, do Exército; o almirante de esquadra Marcos Sampaio Olsen, da Marinha; e o tenente-brigadeiro Marcelo Kanitz Damasceno, da Aeronáutica, além do ministro da Defesa, José Mucio.

Em março, Lula almoçou com os almirantes do comando da Marinha e deu início à estratégia de aproximar o Palácio do Planalto da caserna após a crise de confiança estabelecida após as invasões golpistas de 8 de janeiro. Lula chegou a demonstrar insatisfação e desconfiança com a atuação de alguns militares do governo no evento, responsáveis, por exemplo, pela segurança do Palácio do Planalto, invadido e depredado pelos bolsonaristas.

O almoço foi visto como mais um passo para a aproximação. O presidente ficou reunido com os militares da Força e José Múcio por cerca de três horas e ouviu pedidos de investimentos estratégicos, por exemplo, no programa de fragata e submarino e na pesquisa com enriquecimento de urânio. Depois da apresentação, Lula foi a um almoço informal e demonstrou estar à vontade entre os militares, segundo participantes ouvidos pelo GLOBO. O petista voltou a falar que investirá na área de Defesa.

Uma das estratégias definidas pelo governo é vencer resistência entre militares com a compra de equipamentos para as Forças Armadas. Lula e seus auxiliares têm como meta promover uma despolitização dos quarteis. É consenso no Ministério da Defesa que a maior parte dos militares torcia pela vitória do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) na eleição do ano passado. O ex-presidente, inclusive, mantinha uma relação próxima com os fardados e participava com frequência, por exemplo, de formaturas de futuros oficiais para se aproximar da caserna.

Como o GLOBO mostrou, Lula avalia que, passado o período de desentendimentos com os militares, inclusive com reprimendas públicas, é a hora de reconstruir pontes. O presidente busca vencer as resistências com a sinalização de que seu governo fará investimentos no Exército, na Marinha e na Aeronáutica.

Neste cenário, o vice-presidente Geraldo Alckmin foi escalado para coletar as prioridades de investimentos de cada uma das Forças. Lula já promoveu reuniões com os chefes das Forças para tratar sobre o assunto e em março visitou as obras do Programa de Submarinos (Prosub), em Itaguaí (RJ).

O Prosub foi criado em 2008, durante a segunda gestão de Lula, a partir de uma parceria entre o Brasil e a França para a produção de quatro submarinos convencionais, além da fabricação do primeiro submarino brasileiro convencionalmente armado com propulsão nuclear.

Detentores de altas patentes das três Forças têm feito acenos a ministros de Lula. O comandante da Aeronáutica, tenente-brigadeiro do ar Marcelo Kanitz Damasceno, recebeu o ministro de Portos e Aeroportos, Marcio França, para tratar de assuntos em comum. Além disso, a Marinha emitiu um comunicado em que estabeleceu prazo de 90 dias para que militares da ativa cumpram a Constituição e se desfiliem de partidos políticos, sob pena de punição.

A relação de desconfiança entre Lula e os militares perdura desde a transição. O momento mais tenso, contudo, teve início nos ataques golpistas de 8 de janeiro. Nos dias subsequentes, o presidente foi a público dizer que as áreas de inteligência das Forças haviam falhado. Ele também afirmou ter certeza de que as portas do Planalto haviam sido abertas aos invasores. A segurança do Palácio é feita por militares.

O ápice da crise se deu no fim de janeiro, quando Lula decidiu pela troca de comando do Exército. Por ordem do presidente, o ministro da Defesa demitiu o então comandante, general Júlio César de Arruda, alegando quebra de confiança. O posto passou a ser ocupado pelo general Tomás, que ganhou notoriedade após um vídeo no qual ele pregava à tropa a necessidade de respeitar o resultado das urnas viralizar nas redes e em grupos.

O Globo