Militares bolsonaristas dão desculpas para permitirem invasões
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A Polícia Federal (PF) ouviu, no domingo (23), servidores do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da Presidência que foram identificados nas gravações de 8 de janeiro, dia em que as sedes dos três Poderes foram invadidas por apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
Segundo o portal g1, os militares ouvidos disseram que não efetuaram prisões de invasores do Palácio do Planalto porque a situação envolvia “risco de vida”.
Ao todo, foram ouvidos nove militares, entre eles o major do Exército José Eduardo Natale de Paula Pereira, que apareceu nas imagens dando água aos golpistas que tinham invadido o Palácio do Planalto.
À PF, o major afirmou que se tratava de uma técnica de gerenciamento de crise. Ele disse ainda que os golpistas entraram atrás dele na cozinha de uma das salas da Presidência exigindo água.
Os interrogatórios foram determinados pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). A lista com os nomes dos militares foi entregue à Corte pelo ministro interino do GSI, Ricardo Cappelli. Cinco servidores foram ouvidos pela manhã e outros quatro no período da tarde.
Em ofício enviado ao Supremo, a PF afirmou que ainda analisa mais de 4 mil horas de gravações que têm relação com os atentados do dia 8 de janeiro, quando apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro invadiram as sedes dos três Poderes.
Segundo a corporação, as imagens foram obtidas de câmeras de monitoramento do Planalto, Congresso e STF. Além disso, há outros 129 gigabytes de vídeos capturados da internet (Twitter, YouTube, Facebook, Instagram e outras redes sociais).
Todo o material foi encaminhado para os Institutos de Criminalística e Identificação Nacional e passa por perícia.
Até este momento, somente os peritos tiveram acesso às gravações, e ainda estão produzindo os laudos de cada uma das câmeras, de todo período.
O próximo passo, com as imagens e os laudos prontos, será a equipe da investigação da PF passar a identificar as pessoas, marcar depoimentos e adotar novas medidas.
Na sexta-feira, a PF ouviu o ex-chefe do GSI Gonçalves Dias. O general pediu demissão após a CNN Brasil divulgar imagens em que ele aparece ao lado dos golpistas, dentro do Palácio do Planalto, no dia dos atentados.
Em seu depoimento, ele negou que tenha ajudado os golpistas, mas afirmou que “não tinha condições materiais de sozinho efetuar as prisões”, até porque “um dos invasores encontrava-se altamente exaltado”.
Segundo Dias, ao entrar na sede do Executivo, ele se dirigiu ao quarto andar e verificou que um grupo de pessoas estava sendo retirado do local por agentes do GSI.
Em seguida, o general desceu para o terceiro andar, onde fica o gabinete presidencial, e começou a fazer uma varredura. Neste momento, ele encontrou outros invasores e conduziu essas pessoas à saída, mas que imediatamente solicitou a um subordinado que requisitasse à Polícia Militar que realizasse as prisões.
Num trecho do depoimento, G.Dias afirma que não efetuou as prisões pessoalmente porque estava fazendo “gerenciamento de risco” e que essas pessoas seriam presas pelos agentes de segurança no 2º piso tão logo descessem, pois esse era o protocolo”.
Para G. Dias, como o general costuma ser chamado, houve um “apagão geral” do sistema de inteligência por falta de informações sobre a gravidade das manifestações que estavam sendo convocadas para 8 de janeiro.