Na composição da CPMI, Lirá apoia direita e Pacheco a esquerda
Foto: Sergio Lima/AFP
A escolha da presidência da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) dos Ataques Golpistas virou tema de um novo embate político entre os presidentes da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG). A relatoria do colegiado também é motivo de impasse, mas entre Lira e o governo. A partir da instalação da comissão, cuja criação está prevista para esta quarta-feira, as ações relacionadas ao 8 de janeiro devem dominar a pauta do Congresso e acirrar o confronto entre base aliada e oposição.
A presidência, que dita o ritmo dos trabalhos, e a relatoria, responsável pelas linhas de investigações, são disputadas entre os partidos e os comandos das Casas. Em meio à preocupação do governo com a composição da CPMI, Pacheco e Lira passaram a articular nos bastidores nomes de seus respectivos grupos para ocuparem essas posições.
A relatoria e a presidência são divididas entre Câmara e Senado: cada Casa fica com uma posição a ser definida por acordo. Independentemente da posição a que tiver direito, Lira quer indicar parlamentares mais ao centro. Pacheco, por sua vez, tende a fazer uma escolha mais governista.
Nos últimos dias, Pacheco acompanhou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva em viagem oficial a Portugal, ao lado do líder do governo no Senado, Randolfe Rodrigues (Rede-AP). Randolfe já declarou sua preferência pelo senador Renan Calheiros (MDB-AL), adversário político de Lira, para a relatoria da CPMI. Ao GLOBO, o líder do governo disse que ter o emedebista na relatoria “seria o melhor” para o Poder Executivo. Renan, por sua vez, tem evitado abordar a possibilidade. O deputado Lindbergh Farias (PT-RJ), vice-líder do governo, também já citou o nome de Renan para a relatoria.
— Estou lá (no Senado) conversando muito. Aquela turma que esteve à frente da CPI da Covid toda quer participar. Renan Calheiros quer participar. Pode ser, quem sabe, um bom relator — disse o petista.
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Já os parlamentares do “blocão” de Lira, que tem PP, União Brasil, PDT, PSDB, Cidadania, Solidariedade, Avante, Patriota e PSB, se reuniram na semana passada e trataram da indicação de André Fufuca (PP-AL) para ser o relator. O deputado é o líder do PP na Câmara.
Lira, por sua vez, não aceita Renan na relatoria e vem manifestando, reservadamente, o entendimento de que Fufuca não seria a melhor escolha por ser próximo ao ministro da Justiça, Flávio Dino, um dos alvos da oposição no colegiado. Em sentido oposto ao debate travado pelo bloco, o presidente da Câmara começou a trabalhar para influenciar na escolha da presidência da comissão.
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O nome forte de Lira para a presidência seria o deputado Arthur Maia (União-BA), que foi convocado pelo líder do seu partido, Elmar Nascimento (União-BA), a fazer parte da CPMI no fim de semana. Os bolsonaristas do PL também almejam o posto da presidência. A ideia é emplacar o nome do deputado André Fernandes (PL-CE), que é o autor do requerimento. Caso a indicação seja judicializada, como pretende o governo, já existe um plano B.
Nesta hipótese, o ex-diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) Alexandre Ramagem (PL-RJ) seria o escolhido, confirma o presidente da legenda, Valdemar da Costa Neto. Fernandes está entre os investigados no Supremo Tribunal Federal (STF) no inquérito que apura os autores políticos e intelectuais por trás dos ataques. Ele divulgou os atos com dois dias de antecedência e ironizou a invasão às sedes dos três Poderes.
Para integrar a CPMI, o Planalto pretende reescalar o time que comandou a CPI da Covid do Senado em 2021. Renan Calheiros, Randolfe Rodrigues, Omar Aziz (PSD-AM) estão entre os prováveis nomes do novo colegiado. Deputados como Lindbergh e André Janones (Avante-MG) também têm interesse em fazer parte da tropa de choque do governo.
Parlamentares governistas não escondem o desejo de convocar Jair Bolsonaro. A ideia é emparedar apoiadores do ex-presidente, já que os responsáveis pelos atos golpistas eram admiradores radicais do antigo inquilino do Palácio do Planalto.
O senador Omar Aziz, nome que circula como possível relator no lugar de Renan, para superar o impasse com Lira, evita dizer se participará ou não da CPMI. Ele afirma que o natural é que o ex-ministro da Justiça Anderson Torres, flagrado com uma minuta golpista, e o general Gonçalves Dias, ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), sejam os primeiros a serem ouvidos. Apesar de cotado, Omar Aziz minimiza o papel da CPMI dos Ataques Golpistas.
— É uma CPMI de narrativa. Não é para investigar nada. Não é nenhuma investigação para salvar vidas — disse Aziz ao GLOBO.
Além de Ramagem e Fernandes, a terceira vaga do PL será do deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), um dos filhos do ex-presidente. Ele venceu a resistência de caciques do partido que apostavam em Nikolas Ferreira (PL-MG).
O filho do ex-presidente chegou a ter o pedido negado pelo líder do partido na Câmara, Altineu Côrtes (RJ). A cúpula da legenda avaliava que Eduardo seria “vidraça” para os governistas que tentarão associar os atos do dia 8 de janeiro ao bolsonarismo. Entretanto, diante de um telefonema feito diretamente pelo ex-presidente, Altineu e Valdemar Costa Neto aceitaram que o deputado integre o grupo.
Caberá a Eduardo bater na tecla de que os valores da família não podem ser confundidos com os dos manifestantes extremistas. Parlamentares de oposição vão creditar os atos de vandalismo à suposta omissão do ex-ministro do GSI, Gonçalves Dias, desligado do posto após a veiculação de imagens que o mostraram dialogando com invasores do Palácio do Planalto.