Por alianças no Congresso PT terá poucos candidatos a prefeito
Foto: Ricardo Stuckert/PR
Mesmo com Luiz Inácio Lula da Silva na Presidência, o PT deve priorizar a composição com partidos aliados nas principais cidades nas eleições do ano que vem. A sigla caminha para apoiar Guilherme Boulos (Psol) em São Paulo e Eduardo Paes (PSD) no Rio, as duas maiores capitais do país. Em outros municípios de destaque, como Salvador, Belo Horizonte, Recife e Porto Alegre, também são grandes as chances de não encabeçar chapas
A postura da sigla será diferente da de 2020, quando o número 13 esteve à disposição dos eleitores em 21 capitais. Além de tentar manter a frente ampla que ajudou a eleger Lula em 2022 e se aproximar de siglas de centro que hoje compõem o governo, como PSD e MDB, o partido esbarra na falta de renovação de quadros e na dificuldade de viabilizar candidatos petistas.
Em 2020, o partido não elegeu prefeito em nenhuma das capitais do país, fato inédito desde a redemocratização. O número de prefeituras eleitas despencou nos últimos dez anos. Em 2012, no primeiro mandato da então presidente Dilma Rousseff, foram 630 vitórias conquistadas – inclusive na capital paulista, com Fernando Haddad, atual ministro da Fazenda.
Em 2016, no auge do antipetismo com a Lava-Jato e o impeachment de Dilma, foram 256 prefeitos. Na eleição municipal passada, o número caiu para 183.
Secretário-geral do PT, o ex-deputado Henrique Fontana defende que o partido priorize “alianças estratégicas” nas maiores cidades brasileiras com as legendas que compuseram a aliança eleitoral de Lula. A partir de então, o diálogo se estenderia para as siglas de centro que hoje integram a base governista, a fim de isolar a extrema direita.
“Achamos que a extrema direita, apesar de nós termos hoje a maioria do país, não pode ser desconsiderada. O tempero desses dois pilares vai nos apontar os caminhos”, afirma.
Fontana destaca a diferença das disputas do ano que vem em relação às de 2020, quando o PT não era governo: “O PT vai se organizar para crescer nas eleições. Mas esse crescimento não pode deixar de levar em conta as alianças, não pode ser um ambiente em que se queira colocar candidaturas próprias em todos os lugares.”
Na capital paulista, o acordo para abraçar o candidato do Psol foi feito ainda durante a pré-campanha presidencial de Lula. O hoje presidente lançou Boulos à prefeitura paulistana com apoio do PT depois de o então candidato ao governo de São Paulo retirar-se da disputa estadual para apoiar o petista Fernando Haddad. Se a aliança for confirmada, será a primeira vez que a sigla não terá candidato na cidade.
Segunda maior cidade do país, o Rio deve registrar novamente um apoio do PT ao prefeito Eduardo Paes (PSD), que teve um vice do partido entre 2013 e 2016. Hoje, a sigla de Lula ocupa três secretarias na gestão carioca. O que pode colocar em xeque a aliança é a tentativa de aproximação entre Paes e o governador Cláudio Castro (PL), que criaria enorme resistência nas bases petistas. Apesar do desejo do prefeito, no entanto, a composição com Castro é considerada difícil.
“Queremos essa aliança porque consideramos o Rio estratégico, acreditamos que a disputa nacional ainda vai permanecer forte e que o campo bolsonarista vai se organizar. Mas queremos contribuir de fato e vamos reivindicar a possibilidade de indicar o vice”, afirma Tiago Santana, presidente do PT municipal. “Se o Castro entrar na aliança, todo o discurso [antibolsonarista] fica comprometido. Não podemos confundir a cabeça do eleitor.”
Para desenhar 2024 no berço do bolsonarismo, o PT estadual do Rio vai receber a presidente Gleisi Hoffmann e o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, no início de maio. “A diretriz clara é construir candidaturas com os partidos que participam do governo Lula, mas também queremos fortalecer novos quadros”, aponta João Maurício de Freitas, presidente estadual. Na populosa região metropolitana, a aposta para eleger nomes próprios está no leste fluminense, com a reeleição em Maricá e a tentativa de vencer em Itaboraí e na conservadora São Gonçalo, cidade com cerca de 1 milhão de habitantes.
Em Salvador, onde Lula teve 70% dos votos no segundo turno do ano passado, o PT até alimenta a ideia de ter postulante próprio, mas há chance grande de compor com uma sigla da base, como o MDB do vice-governador baiano Geraldo Júnior – que demonstra entusiasmo em se candidatar. O Estado é comandado pelo petista Jerônimo Rodrigues, mas, apesar de estar nas mãos do partido desde 2007, nunca ocupou a prefeitura soteropolitana.
O atual prefeito e candidato à reeleição, Bruno Reis (União Brasil), é ligado ao ex-prefeito ACM Neto. Foi eleito em 2020 no primeiro turno com 64,2% dos votos, enquanto a petista Major Denice teve apenas 18,8%. Segundo o presidente do PT da Bahia, Éden Valadares, o partido colocará candidatos próprios nos municípios onde tiver os nomes mais fortes dentro do arco partidário ligado a Jerônimo e Lula, mas sempre com “responsabilidade” e priorizando as bases governistas estadual e nacional. No caso de Salvador, não há quadros naturais, o que favorece o diálogo com as outras legendas.
“É uma outra realidade [eleição municipal com Lula presidente], nos impõe uma outra postura inicial. A prioridade é a governabilidade de Lula e de Jerônimo. O PT terá responsabilidade”, afirma o dirigente baiano.
No Recife, assim como em São Paulo, há divergências sobre a possibilidade de não disputar com candidato próprio. O presidente do diretório municipal, Cirilo Mota, no entanto, diz que o partido precisa “fazer gestos para garantir governabilidade” a Lula e defende a aliança com o PSB na cidade, em torno da reeleição do prefeito João Campos. “Lula foi eleito dentro de uma frente ampla e está governando com uma frente ampla. Temos que fazer gestos para os aliados”, afirma.
O partido decidiu no mês passado participar da gestão de Campos com duas secretarias. “Se o PT não tiver candidato, não vai ter nenhum prejuízo. Não vamos apoiar [João Campos] por ‘reboque’. Se decidirmos abrir mão da candidatura, será pela conjuntura política”, diz Mota.
O dirigente lembra da eleição de 2020, quando o diretório do Recife aprovou apoio a Campos, mas o comando nacional do PT decidiu lançar candidatura própria, da deputada Marília Arraes, que depois migrou para o Solidariedade. Segundo Mota, o cenário agora é diferente. “A eleição de Lula mostrou que é preciso fazer aliança. A estratégia é manter o campo [progressista] unido, não só para 2024, mas também para 2026”, afirma o dirigente.
Uma ala do partido, contudo, critica a gestão Campos e não quer apoiá-lo. Representante dessa oposição, o deputado e ex-prefeito João Paulo diz que a prioridade do partido é, sim, defender o projeto nacional e “preservar a governabilidade”, mas pondera que nos municípios a realidade local pode impedir acordos. “Fazer uma aliança por cima, pela cúpula, não resolve. É preciso negociar com a base”, diz. “O quadro nacional é diferente do estadual e a relação com o PSB não é fácil no Estado. Talvez seja melhor participar da eleição e negociar apoio só num segundo turno.”
Em Belo Horizonte, a exemplo do Rio, o PT tende a ficar com o PSD do prefeito Fuad Noman e negocia indicar a vice na chapa. O presidente do diretório municipal, Guilherme de Oliveira, acredita que o processo nacional influencia nas capitais. “Temos que ter a responsabilidade de não estarmos à frente das candidaturas o tempo todo”, diz.
O cenário ainda está indefinido em Porto Alegre, que foi governada por petistas em toda a década de 1990 e no início dos anos 2000. O PT tem disposição de lançar um candidato próprio, mas ainda negocia com os partidos que fazem parte de sua federação, o PCdoB e PV. O PCdoB cogita lançar a ex-deputada Manuela d’Ávila, e as três siglas têm se reunido para discutir 2024 junto com o Psol.
A presidente do diretório de Porto Alegre, Maria Celeste, afirma que a ideia é manter a “unidade da esquerda” na cidade para disputar contra o prefeito Sebastião Melo, um bolsonarista do MDB. “Trabalhamos com a ideia de ter candidato, sim. Mas isso não será impeditivo para um acordo.”