PT discorda de Haddad sobre nova regra fiscal
Foto: EDU ANDRADE/Ascom/MF
No debate sobre o novo marco fiscal no Congresso, o governo Lula (PT) poderá vir a ter mais resistência dentro da própria base, incluindo o PT, do que por parte do centrão.
Petistas e aliados do presidente sinalizam descontentamento com o projeto às vésperas da apresentação ao Legislativo, que deve acontecer na semana quem. A crítica é que a proposta é melhor que o atual teto de gastos, mas ainda tem forte base liberal. Não há expectativa, porém de haver obstrução, e sim resistência. O texto tem amplo apoio de Lula e dos presidentes da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG). Com isso, não deve haver resistência por parte do centrão, incluindo partidos de oposição e independência. Aliados do ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT-SP), defendem o texto, também elogiado pelo vice Geraldo Alckmin (PSB-SP). Elogiada por setores do mercado, a proposta ainda não ganhou confiança de parte da bancada do PT. No bastidores do Planalto e da Fazenda, se fala em “briga de egos” — comuns no partido. A base aliada argumenta que a pressão “é do jogo político”, mas reclama que a Fazenda ainda não apresentou o projeto por inteiro, “apenas um power point”.
A proposta do novo arcabouço fiscal foi apresentada por Haddad na quinta passada (30) depois de dezenas de reuniões internas, com empresários, parlamentares e lideranças políticas.
Na última reunião no Alvorada antes da apresentação do projeto, houve uma briga entre a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, e Haddad, segundo o UOL apurou. Lula teria apaziguado os ânimos e determinado que o partido apoiasse a proposta, mas o descontentamento já havia se tornado público.
Se é verdade q a economia crescerá menos este ano segundo indicadores divulgados pelo governo, precisamos então aumentar os investimentos públicos e não represar nenhuma aplicação no social. Em momentos assim, a política fiscal tem de ser contracíclica, expansionista
— Gleisi Hoffmann (@gleisi) March 18, 2023
O deputado Lindbergh Farias (PT-RJ) também criticou publicamente a proposta. Em entrevista à Folha, o parlamentar afirmou que a proposta é “politicamente desastrosa”. “Eu me lembro do ‘Grande Sertão: Veredas’, em que Riobaldo tenta vender a alma ao diabo e o diabo nem responde. É mais ou menos o que está acontecendo com o arcabouço”, disse. No PSOL, aliado de primeira hora, também há divergências. Interlocutores no partido afirmam que, dos 13 deputados da legenda, 3 são contra o projeto que ainda será protocolado no Congresso, mas publicamente colocam panos quentes sobre a falta de adesão à matéria.
A votação do novo arcabouço fiscal será a primeira prova de fogo do governo Lula no Legislativo. o Executivo precisa aprovar a proposta tida como prioritária nas medidas econômicas. Com apoio de Lira e Pacheco, o centrão deverá votar em peso pela proposta — o que não significa, porém, garantia de maioria. Já entre os partidos de esquerda a previsão não se coloquem contrários à matéria, mas que afirmem apoio com ressalvas ao texto. Os parlamentares estudam apresentar emendas em relação a alguns pontos, como a vinculação dos investimentos. Há críticas da base aliada acerca da articulação política, sobretudo em relação ao ministro da Secretaria de Relações Institucionais, Alexandre Padilha (PT-SP). Nos bastidores, a queixa é de falta de atenção dele a deputados de esquerda, enquanto parlamentares do centrão, principalmente do União Brasil, teriam tido mais acesso ao político.