PT muda de opinião sobre CPMI de 8/1

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Foto: REUTERS/Adriano Machado

A divulgação de imagens das câmeras de segurança do Palácio do Planalto que mostraram o então ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general Edson Gonçalves Dias, supostamente orientando invasores do prédio sobre a saída no dia 8 de janeiro, ao invés de prende-los, fez com que o governo finalmente aceitasse que a criação de uma Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) sobre os atos golpistas será inevitável e desistisse de tentar retirar as assinaturas de apoio. A instalação deve ser na próxima semana.

O vídeo do circuito interno, revelado pela CNN Brasil, jogou a crise para dentro do Palácio do Planalto e bolsonaristas reforçaram o discurso de que aliados do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) foram corresponsáveis pela falta de segurança que possibilitou a invasão dos prédios – narrativa que tenta minimizar a participação dos golpistas apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) que praticaram a depredação contra o petista.

Lula reuniu-se com o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, e com seus líderes no Congresso para discutir o que fazer e decidiram então endossar o pedido de CPMI para refutar a narrativa de que estaria tentando esconder algo. “Esse assunto está amadurecido no núcleo político do governo”, disse o líder do governo no Congresso, senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP). A presidente do PT, deputada Gleisi Hoffmann (PR), antecipou-se e também saiu em defesa de que o partido passasse a apoiar a criação da CPMI.

Essa mudança de posição dos petistas, contudo, foi criticada por parte da base aliada em reunião convocada as pressas pelo líder do governo na Câmara, deputado José Guimarães (PT-CE), para pedir que os deputados da base assinarem o requerimento. Parte deles criticou a estratégia e a falta de eficiência do Executivo em convencer os parlamentares a retirarem suas assinaturas do requerimento, mesmo após mais de um mês tentando através de promessas de cargos e pagamento de emendas. “CPI não é instrumento de governo, é de oposição. Governo precisa trabalhar”, disse um dos líderes governistas. “O governo está perdido, sem saber o que fazer”, falou outro.

Um dos pontos que mais irritaram os deputados da base, como MDB e PSD, é que eles foram atacados por semanas nas redes sociais por não assinarem a CPMI e o PT mudou de postura sem dialogar com eles. Após o fim da reunião, ficou decidido, segundo Guimarães, que os partidos da base do governo não assinariam a CPMI, mas “vão ser os primeiros a indicar os integrantes” se o presidente do Congresso, senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG), criá-la na próxima semana. A sessão para leitura do pedido está marcada para terça-feira. “Essa narrativa que o governo tem culpa não cola. Eles que são os responsáveis pelos atos golpistas e vamos mostrar isso”, disse Guimarães.

A expectativa do governo, agora, é contar com maioria dentre os participantes da CPMI. Os representantes dos partidos serão indicados de acordo com o tamanho dos blocos partidários. Os líder dos maiores blocos, neste momento, são governistas – Felipe Carreras (PSB-PE) assinará as indicações de PSDB, PP e União, por exemplo. A intenção do governo é convencê-los a enviar para a comissão parlamentares mais alinhados ao Executivo e deixar os oposicionistas fora. Com a maioria, seria possível controlar a lista de convocados e quebras de sigilos.

Dias era esperado na Comissão de Segurança Pública da Câmara ontem para se explicar, mas enviou um atestado assinado por um médico da Presidência para faltar. A comissão decidiu, então, convoca-lo, com a anuência do governo. O espaço foi utilizado para que os bolsonaristas defendessem a omissão de integrantes do governo Lula sobre os atos e a prisão de Dias. “Pela proximidade com o Lula, de quem foi GSI nos oito anos anteriores de governo, é impossível, impossível, que o Lula não soubesse”, afirmou o deputado Marcel Van Hattem (Novo-RS).

Valor Econômico