Rachadinha em universidade ocorre via PIX e boleto
Foto: Ana Tohme/Arte UOL
Um esquema de “rachadinha” na véspera da campanha eleitoral foi relatado ao UOL por contratados de um projeto de pesquisa da Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro) sob investigação.
Folhas secretas. Investigação do UOL mostra agora que contratados em folhas de pagamento secretas da Uerj repassaram grande parte das remunerações em um esquema de rachadinha com boletos e Pix. Eles ganhavam a maior bolsa paga pela universidade (R$ 34 mil brutos por mês) com dinheiro do governo Cláudio Castro (PL). Dinheiro vivo. Bolsistas relataram que repassaram a maior parte do dinheiro para operadores que os indicaram para as vagas. Sob condição de anonimato, quatro pessoas falaram que foram envolvidas no esquema entre junho e agosto de 2022 em um projeto de educação profissional. Quase metade dos 92 contratados com as maiores bolsas fez saques em dinheiro que somaram R$ 2,2 milhões nos dois meses que antecederam a campanha.
Rachadinha com boleto e Pix. Os relatos convergem quanto aos valores e à forma de contratação (leia abaixo). Três bolsistas disseram que repassaram as remunerações por meio do pagamento de boletos de empresas (os nomes das firmas não foram revelados). Já um outro contratado afirmou ter transferido dois pagamentos da Uerj (quase R$ 50 mil) por Pix para contas bancárias indicadas por um conhecido. Ele não revelou de quem eram as contas. O que ganhavam no esquema. Ao menos dois desses bolsistas contaram que ficaram com a mesma quantia (R$ 2.000 por mês) e que o restante do dinheiro (cerca de R$ 23 mil) foi usado para pagar os boletos. Somente essa dupla irrigou o esquema com quase R$ 92 mil em três meses. Recrutados por candidatos.
Esses dois bolsistas relataram ainda outro modus operandi semelhante: ambos foram indicados para o projeto por pessoas ligadas a candidatos a deputado no RJ. Temendo represálias, eles não quiseram dizer quem são os agentes políticos. O UOL já revelou que esse mesmo projeto pagou cabos eleitorais de dois deputados bolsonaristas. Quebra de sigilo. As revelações têm potencial para embasar pedidos de quebra de sigilo bancário de contratados do projeto. Os responsáveis pelo esquema de rachadinha podem responder pelos crimes de peculato (desvio de verba pública) e organização criminosa. Reportagens do UOL sobre as folhas de pagamento secretas da Uerj já deflagraram investigações do Ministério Público do RJ e da Procuradoria Regional Eleitoral. Fantasmas. O UOL entrou em contato com 75 dos bolsistas com as maiores remunerações do projeto nos últimos dois meses.
O levantamento mostra fortes indícios de que os serviços não foram prestados –um advogado que ganhou mais de R$ 100 mil brutos admitiu que não trabalhou; 54 bolsistas não explicaram se trabalharam e 12 não sabem como seus dados foram parar nas folhas de pagamento. O que diz a Uerj. Procurada, a universidade disse que o projeto foi encerrado em dezembro e que vai apurar as novas denúncias do UOL por meio de uma “comissão permanente de apuração”. Após as investigações, serão adotadas as providências legais cabíveis, seja no âmbito interno, seja por meio dos órgãos de controle, que têm recebido permanentemente os resultados dos procedimentos internos da universidade.Uerj em nota sobre as novas denúncias do UOL