Bolsonaro monta “conselho de guerra” contra Justiça
Foto: Adriano Machado/Reuters
O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), alvo de busca e apreensão da Polícia Federal (PF), vai reunir advogados e assessores próximos nesta terça-feira (3) para discutir os próximos passos de sua defesa.
Ele foi intimado para depor na sede da PF ainda nesta quarta-feira (3), às 10h.
Assim que soube da operação, o ex-secretário de Comunicação da Presidência (Secom) Fábio Wajngarten acionou o advogado Marcelo Bessa para ir à residência do ex-mandatário no condomínio de alto padrão em Brasília.
Também organizou viagem com os outros dois integrantes da defesa de Bolsonaro, Daniel Tesser e Paulo Cunha Bueno.
Eles embarcaram às 9h de São Paulo para a capital. Procurado, Tessler disse que não dispõe sobre informações sobre o caso ainda e, por isso, não pode comentar. A investigação corre sob sigilo no STF (Supremo Tribunal Federal).
O ex-ministro e candidato a vice na chapa de Bolsonaro, general Braga Netto, foi acionado ainda para acompanhar o caso.
A PF realizou, nesta manhã, a operação que mais chegou perto do núcleo duro do ex-presidente, com a prisão de três de seus principais auxiliares, o tenente-coronel Mauro Cid, Max Guilherme e Sérgio Cordeiro.
Tanto Max quanto Cordeiro são, inclusive, um dos oito cargos de assessor a que Bolsonaro tem direito como ex-presidente da República. Este último foi, inclusive, quem cedeu a casa para o ex-mandatário realizar lives durante a campanha eleitoral, quando foi proibido de fazê-las no Palácio da Alvorada.
Eles também acompanharam Bolsonaro na sua temporada nos Estados Unidos, após perder a eleição. Max ainda esteve ao lado do ex-presidente em suas primeiras viagens pelo Brasil e nos passeios que tem dado por Brasília, como ao colégio militar.
Cid, por sua vez, era ajudante de ordens, mas tinha poder e influência muito relevante no entorno do presidente, causando até ciúmes entre seus auxiliares mais próximos e ministros.
O tenente-coronel foi um dos indiciados pelo vazamento da apuração utilizada por Bolsonaro em uma transmissão de 4 de agosto de 2021, em que contestou a segurança do sistema eleitoral e levantou suspeita de fraude nas eleições de 2018.
Ele também foi pivô de uma crise com o Exército no início do ano, por causa de uma promoção para comandar um batalhão em Goiânia, e culminou na demissão do então comandante do Exército, Julio Cesar de Arruda, já durante o governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
As medidas são no âmbito de uma investigação, diz a PF, sobre uma suposta “associação criminosa constituída para a prática dos crimes de inserção de dados falsos de vacinação contra a Covid-19 nos sistemas SI-PNI e RNDS do Ministério da Saúde.”
“A apuração indica que o objetivo do grupo seria manter coeso o elemento identitário em relação a suas pautas ideológicas, no caso, sustentar o discurso voltado aos ataques à vacinação contra a Covid-19”, afirma a PF.
De acordo com a Polícia Federal, os alvos da investigação teriam realizado as inserções falsas entre novembro de 2021 e dezembro de 2022 para que os beneficiários pudessem emitir certificado de vacinação para viajar aos Estados Unidos.
Segundo a Folha apurou, há suspeita de que os registros de vacinação de Bolsonaro, Cid e da filha mais nova do ex-presidente, Laura, foram forjados.
A PF diz ainda que as diligências são cumpridas dentro do inquérito das milícias digitais, que tramita no Supremo Tribunal Federal e tem como relator o ministro Alexandre de Moraes.