Bolsonaro pagou sala com 7 assessores e nunca usou
Foto: Domingos Peixoto / Agência O Globo
Em um de seus primeiros atos na Presidência, no dia 24 de janeiro, Luiz Inácio Lula da Silva extinguiu o gabinete regional criado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro na cidade do Rio. A estrutura montada para que o antigo chefe do Executivo pudesse despachar da capital fluminense consumiu R$ 2,323 milhões só em salários de servidores e nunca foi usada por Bolsonaro. O GLOBO foi ao local em abril do ano passado e não encontrou ninguém.
Em maio de 2022, a antiga gestão chegou a colocar em sigilo informações sobre funcionários lotados no gabinete. Por meio de novo pedido via Lei de Acesso à Informação (LAI), O GLOBO constatou que, ao longo de seus quatro anos de existência, a estrutura contou com sete servidores.
Em janeiro deste ano, quando o gabinete estava prestes a ser dissolvido, cinco funcionários foram exonerados ao longo do mês. Todos eles cumpriram serviço na estrutura por pelo menos três anos. Os outros dois funcionários já não faziam parte do quadro desde 2019 e 2021.
Criado no dia seguinte à posse de Bolsonaro, em 2 de janeiro de 2019, o escritório passou por uma reforma e começou a funcionar em maio do primeiro ano de governo. A estrutura ficava localizada no Palácio da Fazenda, no Centro do Rio, ao lado da sala que pertencia ao então ministro da Economia, Paulo Guedes, quando estava na cidade. O espaço foi cedido, sem custo, pelo Ministério da Economia.
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A prerrogativa do gabinete era servir de base para o ex-presidente em seu domicílio eleitoral. Por quatro anos, o antigo chefe do Executivo não despachou uma vez sequer do local. Na sua agenda oficial entre 2019 e 2022 também não constam registros de qualquer visita.
No ano passado, O GLOBO noticiou a existência do gabinete sem uso na gestão Bolsonaro. À época, a reportagem esteve no endereço do escritório presidencial fluminense, mas não encontrou qualquer sinal de servidores trabalhando.
Na sala em que o gabinete supostamente funcionava não havia qualquer caracterização ou menção à Presidência da República. Todas as outras salas próximas estavam trancadas. Um funcionário do edifício, que disse trabalhar no prédio há 32 anos, afirmou que nunca “tinha ouvido falar no gabinete” reservado a Bolsonaro.
Uma das assessoras do gabinete que esteve lotada na estrutura entre fevereiro de 2019 e 13 de janeiro deste ano, Andrea de Almeida Porto, disse, por telefone, que a ausência de pessoas trabalhando se tratava de uma coincidência.
A reportagem retornou ao endereço no dia seguinte, também à tarde, mas, dessa vez, foi impedida de subir. Foi quando o assessor especial e coronel da reserva André Malicia, exonerado em 2 de janeiro, confirmou, em ligação, que o local nunca havia sido visitado por Bolsonaro.