Bolsonaro treinou para não dar informação nova à PF
Foto: Fernando Donasci/O Globo
O ex-presidente Jair Bolsonaro passou a segunda-feira trancado com seus advogados em Brasília treinando para o depoimento que dará hoje na Polícia Federal com um único objetivo: sair da mesma forma que entrou, sem dar nenhuma informação nova aos investigadores – nem sobre a fraude em seu cartão de vacinação, nem sobre os depósitos em dinheiro vivo que seu ajudante de ordens, Mauro Cid, fez na conta da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro.
O treinamento foi coordenado pelo advogado Paulo Amador Bueno, e o ex-ministro da Secretaria de Comunicação Fabio Wajngarten, que já assessoram Bolsonaro no inquérito das joias sauditas. A fraude no cartão de vacinação do ex-presidente foi revelada no início de maio, quando a PF realizou uma série de buscas e prisões, incluindo a do ex-ajudante de ordens da Presidência da República.
Após a operação, a defesa de Bolsonaro pediu o adiamento da oitiva para poder ter acesso aos autos e tomar conhecimento do conteúdo das 200 páginas do relatório apresentado ao ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes.
Segundo o documento que embasou a Operação Venire, Mauro Cid e outros seis antigos auxiliares de Bolsonaro providenciaram o registro falso de vacinação do ex-presidente e de sua filha, Laura, na véspera de uma viagem aos Estados Unidos, em dezembro de 2022.
Os registros, feitos por funcionários da prefeitura de Duque de Caxias no sistema eletrônico do SUS, utilizando dados de lotes de vacinas que o ex-presidente nunca tomou. Inseridos os dados, o computador do Palácio do Planalto acessou o ConecteSUS e emitiu o certificado de vacinação. Dias depois, no apagar das luzes do governo, Mauro Cid gerou outro comprovante a partir de seu celular. Em seguida, os dados falsos foram apagados.
Logo após a busca, Bolsonaro disse apenas que não se vacinou e que não sabia da falsificação.
“Não existe adulteração da minha parte. Não tomei a vacina. Ponto final”, declarou Bolsonaro no dia da operação.
A estratégia da defesa do ex-presidente é justamente a de se eximir de responsabilidade pelos atos de seu ajudante-de-ordens, que só vai depor na quinta-feira.
Mas além do cartão de vacinação falso, a PF ainda quer ouvir Bolsonaro sobre os depósitos feitos por Mauro Cid na conta da ex-primeira-dama Michelle.
Durante a operação, a PF apreendeu US$ 35 mil e R$ 16 mil em espécie, que teriam sido sacados de uma conta de Mauro Cid no Banco do Brasil em Miami, no fim de março.
A PF também encontrou um R$ 400 mil feito pelo sogro de Mauro Cid em sua conta. Agora, apura se o dinheiro foi usado para pagar despesas da família do ex-presidente.
A Polícia Federal descobriu nas mensagens do celular de Mauro Cid imagens de sete comprovantes de depósitos que somam R$ 8.600 em dinheiro vivo feitos por Cid e enviados a assessoras de Michelle.
Foi pedida a quebra do sigilo bancário para que se saiba de onde vieram os recursos e qual o seu destino.
No depoimento de hoje, a PF buscará esclarecer se Bolsonaro sabia e autorizou da fraude nos cartões de vacinação ou se de alguma forma se beneficiou dos valores movimentados nas contas de Cid.