CPI do MST não tem como incomodar o movimento

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Foto: Reprodução

O governo Lula (PT) montou uma megaoperação para evitar o desgaste da imagem do presidente com o agronegócio após a instalação da CPI do MST, que deve começar na Câmara na semana que vem. As investigações vão focar nas recentes invasões de terras. A Comissão Parlamentar de Inquérito do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra vai apurar quem invadiu e quem financiou as invasões em cada estado do país desde o início do ano. Deve iniciar os trabalhos na próxima semana.

Enfraquecido no Congresso, o governo não conseguiu emplacar aliados na cúpula da CPI, que foi formada só por opositores. A deputada Gleisi Hoffmann (PT-PR), presidente do PT, minimizou o possível desgaste do governo com o inquérito e disse que a oposição não vai encontrar crime nenhum. “Vamos defender a verdade”, disse ela ao UOL, após ser escalada para atuar nessa tropa de choque. O Planalto vê pouco potencial para dano ao MST, mas tem sido cobrado pelo histórico aliado da esquerda. Em conversas, ministros têm dito que a comissão terá caráter puramente político e tem mais possibilidade de incomodar o governo do que o movimento. O Planalto se preocupa com o equilíbrio entre os sem-terra e o agronegócio, por isso montou uma força-tarefa com aliados dos dois lados e com pessoas influentes na economia. No começo do ano, pouco após a posse, o MST retomou a ocupação de terras na Bahia e no Espírito Santo, gerando ruído com o governo e revoltando fazendeiros. O fato também se transformou na desculpa oficial da bancada ruralista para a implementação da CPI.

A cúpula da CPI se municiou com outras duas CPIs sobre o tema que já foram instaladas na Câmara: uma em 1990 e outra em 2019. Os deputados fizeram um estudo sobre os gargalos dos relatórios finais apresentados nas duas ocasiões. Os deputados querem convocar líderes e fundadores do MST, a presidente da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), Silvia Maria Fonseca Silveira Massruhá, e o presidente do Incra, Cesar Fernando Schiavon Aldrighi. Também estarão na mira para falar três ministros de Lula: Paulo Teixeira (Desenvolvimento Agrário), Carlos Fávaro (Agricultura) e Flávio Dino (Justiça e Segurança Pública).

Recebendo reclamações tanto do MST quanto do agro, o governo montou uma operação para acalmar o ânimos e escalou diferentes ministros como interlocutores: Márcio Macêdo (Secretaria-Geral) e Paulo Teixeira (Desenvolvimento Agrário) falam com o MST; Carlos Fávaro (Agricultura) e o vice-presidente Geraldo Alckmin –além de Simone Tebet (Planejamento e Orçamento), quando for possível– negociam com o agronegócio; Alexandre Padilha (Relações Institucionais) e Gleisi Hoffmann cuidam do Congresso e da CPI. Os gestos para o MST foram concentrados na última semana, após uma série de críticas públicas das lideranças do movimento. Alckmin e outros quatro ministros visitaram a Feira da Reforma Agrária, em São Paulo, para conversar com agricultores e ter reuniões fechadas. O movimento reclamou que não está sendo ouvido como imaginava e cobrou o apoio massivo. O governo rebateu apontando o incômodo da retomada das ocupações em tão pouco tempo de gestão. Em um aceno prático, Teixeira anunciou um plano emergencial para retomar assentamentos agrários ainda em maio e disse que pretende privilegiar o diálogo. Mas as visitas irritaram o agro. O setor com alta adesão bolsonarista e onde as letras M, S e T não podem ser lidas juntas viu as ações do governo como um aval às ocupações. Em retaliação, acionou sua bancada de parlamentares. Para tentar apagar o incêndio, Alckmin foi a uma reunião na sede da FPA (Frente Parlamentar do Agronegócio) na última terça. Ele prometeu que o “direito à propriedade privada seria respeitado”, mas os ruralistas pediram mais. Claro que tem [pontos de bloqueio em relação ao governo]: posicionamentos claros, ideológicos e relacionados, principalmente, ao direito de propriedade. Isso nos afasta, nos gera um ponto de preocupação muito grave, e é o que estamos tentando contemporizar em relação a algumas atitudes.Deputado Pedro Lupion (PP-PR), presidente da FPA, demonstrando a insatisfação após encontro com Alckmin

Para acalmar o MST, o governo também tem argumentado que o principal alvo da CPI será Lula, não o movimento. Os petistas dizem não ver conteúdo jurídico que possa incriminar as ações do MST. Já, para o governo, uma CPI pode virar fonte de dor de cabeça. Os ministros veem a comissão como um holofote para que opositores “lacrem” nas redes sociais e constranjam o Planalto. Com a tropa de choque montada pelo PT, a expectativa do Planalto é que eles defendam não só o MST como as ações de relacionamento do governo com os movimentos sociais e seus ministros.

O deputado Tenente-Coronel Zucco (Republicanos-RS) será o presidente da comissão. A relatoria ficará com o deputado Ricardo Salles (PL-SP), ex-ministro do Meio Ambiente no governo de Jair Bolsonaro (PL). O deputado Kim Kataguiri (União-SP) ficará com a 1ª vice-presidência do colegiado, enquanto os deputados Delegado Fabio Costa (PP-AL) e Evair de Melo (PP-ES) ficarão com a segunda e a terceira vice-presidência, respectivamente. A CPI tem duração inicial de 120 dias.

Uol