
CPIs ameaçam movimentos sociais
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Após concentrar as energias para garantir maioria na composição da comissão parlamentar mista de inquérito (CPMI) dos atos golpistas, o governo enfrenta dificuldades para evitar que a comissão parlamentar de inquérito (CPI) das invasões do MST seja comandada e tenha como relator deputados ligados ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
Considerado o colegiado mais importante para o Palácio do Planalto dos três dessa natureza que serão instalados na Câmara nos próximos dias, a CPI do MST ainda está na mira do PT, que pretende emplacar um nome em um dos principais cargos da comissão.
O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), fez a leitura dos requerimentos de criação na semana passada, e as CPIs das Americanas, das apostas esportivas e das invasões do MST devem ser instaladas assim que os partido definirem todos os seus indicados para cada um dos colegiados.
Depois de oferecer resistência à instalação da CPMI dos atos de 8 de janeiro por considerar que a comissão poderia atrapalhar a tramitação de propostas consideradas prioritárias para o governo, entre elas, o projeto do novo arcabouço fiscal, aliados do governo mudaram de posição após a revelação de que o ex-ministro Gonçalves Dias esteve nas dependências do Palácio do Planalto no dia das invasões.
Com a nova posição, o governo passou a articular junto aos partidos aliados no Congresso para garantir a maioria na comissão de investigação. Segundo fontes, a iniciativa surtiu efeito e, dos 32 membros da CPMI, pelo menos 21 estariam mais alinhados ao governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
A CPMI deve ser instalada na quarta-feira e o deputado Arthur Maia (União-BA) é o favorito para presidir o colegiado. O martelo, porém, ainda não foi batido. Também indefinido, o posto de relatoria está mais perto de ficar nas mãos do senador Eduardo Braga (MDB-AM), mas o nome de Renan Calheiros (MDB-AL), que foi relator da CPI da Covid, não está completamente descartado.
Parlamentares mais ligados a Lula consideram importante que o governo tenha maioria na composição da CPMI para evitar que os bolsonaristas consigam construir uma narrativa que contamine a nova gestão por um episódio que ocorreu nos primeiros dias do mandato petista. Além disso, acreditam ser importante investigar as invasões aos prédios dos Três Poderes para apurar financiadores e confirmar se há a digital de Bolsonaro nos atos golpistas.
Diante do sucesso da ofensiva governista para conseguir emplacar aliados na maioria das cadeiras da CPMI, bolsonaristas decidiram escalar parlamentares com elevado alcance digital para compor a CPMI, entre eles, o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), filho do ex-presidente.
Entre os governistas, há a possibilidade de o deputado André Janones (Avante-MG), também atuante nas redes sociais, ser indicado para o colegiado.
Esse cenário, avaliam deputados e senadores de todos os campos políticos, deve determinar que a CPMI tenha dois campos de batalha: o plenário da comissão e a internet.
Em meio à ofensiva para garantir maioria na CPMI, o governo se descuidou e não deve conseguir ter maioria na CPI das invasões do MST. Bolsonaristas se articularam e estão perto de emplacar o deputado Tenente Coronel Zucco (Republicanos-RS), autor do requerimento da comissão, na principal cadeira do colegiado. O ex-ministro Ricardo Salles (PL-SP) é o nome mais cotado para a relatoria.
Preocupado com esse desenho, o PT já sinalizou que pretende brigar por um cargo de relevância dentro da comissão para evitar que as investigações virem uma ferramenta política de perseguição aos movimentos sociais.