Dallagnol diz que só quer chorar

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Foto: Reprodução

O deputado Deltan Dallagnol (Podemos-PR) ficou enclausurado em seu gabinete na Câmara dos Deputados desde a noite da terça-feira, 16, quando saiu a decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que cassou o seu mandato por unanimidade, e ficou por lá até às 3h da madrugada desta quarta-feira.

Em conversas ouvidas pela reportagem, assessores relataram que o deputado estava “com vontade de chorar” e falam em “clima péssimo” dentro do gabinete. Para sobreviver as mais de 5h de reunião de crise que se somam ao acompanhamento da votação no TSE, Deltan dividiu uma pizza de queijo com pepperoni e um refrigerante de guaraná, sua bebida favorita.

 

Ao longo da noite, o deputado cassado recebeu a visita de seis parlamentares: a presidente do seu partido, Renata Abreu (SP), acompanhada de Dr. Victor Linhalis (Podemos-ES), e mais quatro deputados bolsonaristas – entre eles, Marcel van Hattem (Novo-RS).

“Nunca o vi assim”, disse um dos parlamentares numa conversa entre eles. “Eu me emocionei”, completou Van Hattem, sobre a cena. Assessores circularam pelos corredores algumas vezes para conversas ao telefone. “O clima está péssimo”, afirmou um dos membros da equipe de Deltan. “Ele estava com vontade, mas não o vi chorar” disse outro, em ligação por telefone. Por segurança, a porta do gabinete ficou trancada para evitar visitas inesperadas.

Estiveram reunidos na equipe dentro do gabinete mais de 10 pessoas. O deputado só deixou sua sala às 3h da manhã. Deltan não quis responder a nenhuma pergunta do Estadão.

Renata Abreu e Victor Linhalis foram os primeiros deputados a visitarem o deputado, por volta das 21h. Esbaforida, Renata passou pelo corredor do 7º andar do Anexo 4 da Câmara dos Deputados inconformada com a decisão e disse aos seus assessores que a decisão do TSE dará mais força à direita.

Ela ainda falou a eles que negociaria sua própria candidatura ao Senado no Estado do ex-procurador da operação Lava Jato. “Eu vou ser candidata ao Senado é no Paraná. Já vou negociar com ele isso. É ridículo o que os caras estão fazendo”, afirmou.

Dentro do gabinete, Renata relatou ter conversado com o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), que deu segurança à presidente do Podemos que as atitudes não deveriam ser tomadas com urgência.

A Coluna do Estadão, porém, mostrou, algumas horas depois, que Lira já disse a interlocutores que Deltan terá que deixar o gabinete e devolver equipamentos à Casa nas próximas horas assim que chegar a comunicação do TSE sobre a decisão.

A divergência entre as informações recebidas pelo gabinete aumentaram a desconfiança da equipe de Deltan sobre Lira. No discurso da recondução à presidência da Câmara, o alagoano pediu uma “autocrítica” do Poder Judiciário e à Operação Lava Jato.

“Transformaram denúncias que deveriam ser apuradas sob o manto da lei em verdadeiras execuções públicas, empresas foram destruídas, empregos foram ceifados, reputações jogadas na lata do lixo. Esses atos muitas vezes burlaram as leis, o direito à defesa e foram o estopim para um clima hostil em relação à política”, afirmou. “Não faço a defesa do malfeito. Quem faz errado deve pagar.”

Deltan, ex-procurador da operação e então deputado recém-empossado, estava na plateia e ouviu o discurso.

Renata Abreu ficou aproximadamente 1h em conversas com o deputado e prometeu que o partido “tomará as medidas judiciais que ainda restam”. Dentro do gabinete, assessores articulavam estratégias jurídicas e parlamentares para reverter a decisão.

As possibilidades são poucas. Cabe recurso apenas ao próprio TSE e ao Supremo Tribunal Federal (STF). Um das estratégias levantadas durante as mais de 5h de reunião foi a de uma articulação para que a Casa produza uma moção de repúdio à decisão de cassar Deltan.

A reunião demorou tanto tempo que Deltan pediu uma pizza de queijo com pepperoni e um refrigerante de guaraná por volta das 23h20 para dividir entre a equipe.

Os olhos de todos se mantiveram constantemente atentos ao que acontecia na imprensa. “Já saiu a matéria da pizza?”, questionou um assessor à reportagem 20 minutos após a Coluna do Estadão publicar a informação já às 00h10.

Estadão